Como se pode observar ao
final da matéria, o rol de debatedores foi formado de matizes que abrangeu
executivos da saúde e representantes do corpo clínico e científico da medicina.
Certamente, a fala dos executivos
tendem veladamente por uma medicina mais econômica onde as “glosas”, segundo
eles, por vezes se fazem necessárias e, não obstante o Código de Ética Médica
elencar no Capítulo II que trata dos direitos dos médicos especificamente nos Inciso II: Indicar o procedimento adequado ao paciente,
observadas as práticas cientificamente reconhecidas e respeitada a legislação
vigente e Inciso VIII: Decidir, em qualquer circunstância, levando em
consideração sua experiência e capacidade profissional, o tempo a ser dedicado
ao paciente, evitando que o acúmulo de encargos ou de consultas venha a
prejudicá-lo.
Portanto, em função da
representação de seus debatedores, há de se considerar natural, muito embora
não o seja, o presidente nacional da UNIMED afirmar que “O valor da consulta não é importante [...] e, por outro lado, o
presidente da Associação Paulista de Medicina afirmar: “não
se pode tirar a autonomia do médico na hora de solicitar exames”.
Eis a leitura:
Como
evitar o desperdício de recursos nos serviços de diagnósticos?
Em
debate, representantes do setor concluem que o excesso de exames está ligado à
má formação médica e à pressão, muitas vezes, por parte do paciente e da
indústria.
Como
mudar o foco da doença para valores como promoção e prevenção, sem que haja
desequilíbrios de recursos, uma vez que o modelo brasileiro ainda se sustenta
com base na quantidade de procedimentos? A pergunta norteou o IT Mídia Debate
desta terça-feira (03/04), realizado na sede da IT Mídia.
Partindo
da constatação de que o envelhecimento da população, o avanço da tecnologia e a
importância da prevenção impulsionam cada vez mais a demanda por exames de
diagnósticos, representantes de diferentes elos do setor dialogaram sobre as
possíveis soluções para uma otimização de recursos evitando, assim, o excesso
de exames – fator este que, além de onerar o sistema, pode prejudicar a saúde
do paciente.
Apesar de não haver nenhum
levantamento que mensure o real impacto nos recursos de exames desnecessários, alguns fatores claramente influenciam
essa tendência como é o caso das dezenas de marcadores lançados pela indústria
farmacêutica todos os anos, que são disponibilizados para a prática médica.
“Um médico mal informado e
influenciado pelo marketing da indústria com certeza vai começar a solicitar
esse tal procedimento. É preciso entender que sem evidências científicas não se
deve solicitar exame de laboratório, sobretudo quando não se sabe o que fazer
com o resultado”,
enfatiza Wilson Shcolnik, diretor de Acreditação e Qualidade da Sociedade
Brasileira de Patologia Clínica/Medicina Laboratorial (SBPC/ML).
A
mesa debatedora reforçou que os exames de diagnósticos são importantes, no
entanto, é preciso ter critérios
clínicos para solicitá-los, o que muitas vezes não acontece por falta de
formação médica adequada. Além disso, há também a pressão por parte do paciente, hoje, munido de informações,
principalmente, provenientes do Google ou Dr. Google, como os executivos o
apelidaram.
Saber
dosar o limiar entre acesso e excesso é notadamente um grande desafio para os
gestores. “Quando se fala em promoção e prevenção em saúde é preciso se
acostumar a ouvir falar de exames normais. Muita gente atribui isso a custos
para a cadeia de saúde, esquecendo que na verdade esses exames, na maioria das
vezes, evitam outros custos que seriam imputados ao sistema.
O exame normal tem
um valor e precisa ser considerado. É claro que não estou falando em excesso, o
que deve prevalecer é a medicina baseada em evidencias”, considera Shcolnik.
Possíveis
soluções
Muito
se discute sobre qual caminho seguir, mas ainda não tem um modelo de sucesso a
ser copiado. De acordo com o diretor de patrimônio e finanças da Associação
Paulista de Medicina (APM), Murilo Rezende Melo, só há uma certeza: não se pode tirar a autonomia do médico na
hora de solicitar exames.
Outros
fatores foram largamente mencionados como setas indicativas para o uso racional
dos recursos nos serviços de diagnósticos que acaba envolvendo diretamente
médicos, pacientes, laboratórios e operadoras de planos de saúde.
Foram
eles: novo modelo de reembolso e remuneração, aplicação de diretrizes clínicas
– como as já existentes da Associação Médica Brasileira (AMB) -, investimentos
em Tecnologia da Informação (TI) no sentido de integrar as informações, em
educação continuada e programas de qualidade e acreditação por parte dos
laboratórios.
O presidente da Central
Nacional Unimed, Mohamed Akl, “bateu na tecla” da importância da educação
médica, deixando claro que a questão da remuneração não seja tão importante
.
“O valor da consulta não é
importante,
pois se aumentar o valor por atendimento o excesso de exames vai continuar
existindo. Sabemos que 50 anos atrás o médico ficava 50 minutos com o paciente,
tudo era analisado e um ou outro exame era pedido. Hoje, pela disponibilidade
de exames no mercado é muito mais simples solicitar direto um pedido a dedicar
longos minutos com o doente. O problema maior é que o profissional da saúde não
se dá conta dos malefícios dessa ação”, diz Akl.
Segundo
o executivo, entre 2008 e 2012 a Central Unimed aumentou sua carteira de
clientes em 64%, alcançando mais de um milhão de beneficiários. Já o custo
assistencial cresceu 130% – devido a
altas tecnologias e pedidos de exames sem critérios. “Em ano 2000 era 1,67
exames por beneficiário, atualmente este número é de 10, 86”.
Outra
possibilidade levantada pela mesa foi a do paciente pagar uma parte do exame
solicitado. Entretanto, Melo, da APM, se posicionou contra. “Isso nos
preocupada, porque os tipos de planos de saúde que mais cresceram são os mais
baratos, considerados uma substituição do SUS, que tem melhorado e consegue
fazer muito com a falta de verba que tem, mas não podemos penalizar o
paciente”.
Grande
desafio
O
melhor modelo para evitar desperdício pode ainda não ter sido descoberto pelo
setor, mas enquanto isso a Alliar Medicina Diagnóstica faz uso da educação
continuada em cidades do interior do Brasil para mostrar os lados positivos e
negativos de se solicitar exames.
“Evitando
excesso fazemos com que outras pessoas tenham acesso. Mas como fazer isso é
desafiador, por isso temos reuniões de educação continuada. Não podemos achar
que a entrada do PET, que é um exame caro, por exemplo, vai resolver qualquer
situação”, conta o diretor médico da Alliar, Francisco Maciel Júnior.
Outra
ação da companhia é atrair residentes de outras especialidades que não a de
diagnóstico por imagem para que tenham um melhor conhecimento sobre exames
solicitados.
Participaram do IT Mídia Debate sob o tema “Uso racional
dos recursos laboratoriais” os seguintes nomes:
Francisco Maciel
Júnior – Diretor Médico da Alliar, Wilson Shcolnik - Diretor de Acreditação e
Qualidade da SBPC/ML e médico Patologista Clínico, Murilo Melo – Diretor de
Finanças da APM, Mohamad Akl – Presidente da Central Unimed.
Comentário: João Bosco
Fonte: Saúdeweb
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