segunda-feira, 15 de agosto de 2016

Fórum Médico Jovem: Alto nível de exigência da profissão afeta o médico desde graduação


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O jovem médico depara-se com uma série de questões iminentes da Medicina logo no início de sua carreira e, apesar de uma rotina estressante que afeta sua saúde física e mental, muitos tendem a não procurar ajuda.

Esta problemática foi abordada nesta quinta-feira (11), em Brasília (DF), durante o I Fórum Nacional de Integração de Médico Jovem do Conselho Federal de Medicina (CFM). O encontro é transmitido em tempo real.

Segundo a conselheira do Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp), Kátia Burle Guimarães, há indícios de que o estresse do médico começa já durante a graduação. Ela apresentou pesquisa realizada com alunos a partir do 5° ano onde apontou que em 63,71% dos casos havia predominância de sintomas psíquicos.

O levantamento apresentado pela conselheira também mostrou que 60,1% das alunas tinham estresse, enquanto entre os homens, esse número cai para 41,06%.

Para Burle, há uma tendência elevada nas mulheres, devido “à propensão a serem mais sensíveis, absorverem mais os dramas que seus pacientes enfrentam, além da questão da maternidade tardia, devido à necessidade de dedicação à profissão”.

O problema da saúde física e mental do médico já é observado também na residência médica.

De acordo com o professor da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), Luiz Antônio Martins, há sintomas depressivos em 28,9% dos Residentes, em seu primeiro ano. “A depressão e a privação do sono são os mais significativos problemas que afetam os residentes e têm sido considerados, respectivamente, como a principal reação ao treinamento e um dos mais importantes fatores estressantes.

A privação do sono poderá levar comprometimento do desempenho clinico, maior incidência de erros e aumento do tempo necessário para exercer tarefas”, alertou.

Dependência - Os problemas mais comuns, que acometem os médicos que lidam diariamente com situações de alto nível de exigência física e mental, são a dependência de álcool ou de drogas, as doenças afetivas, distúrbios alimentares, demências e/ou delirium pro­vocados pelo consumo de álcool e transtornos de personalidade.

Segundo o coordenador da Unidade de Pesquisa em Álcool e Droga da Universidade Federal de São Paulo, Cláudio Jeronimo da Silva, além da convivência com situações de estresse, as resistências que os médicos têm em admitir que estejam passando por algum problema em relação à saúde física ou mental fazem com que levem, em média, sete anos e meio para procurar ajuda médica, correndo o risco de a doença se agravar.

“Um em cada 15 médicos apresenta problema atuais de drogas e álcool. Em geral há uma dificuldade geral do médico em aceitar o papel de paciente. Observamos que na maioria das vezes os profissionais se sentem envergonhados em procurar ajuda de um colega”, declarou Silva.

Suicídio – A literatura mundial tem chamado a atenção para a ocorrência de um dado fenômeno: o número de suicídios cometidos por médicos é até cinco vezes maior do que a população geral. E, diferente do observado, as mulheres médicas possuem um risco ainda maior. As profissões com maiores taxas de suicídio são médicos, dentistas, operários, policiais, jornalistas e artistas.

Segundo o conselheiro dos Conselhos Federal e Regional de Medicina do Piauí, Leonardo Luz, que pesquisa sobre o tema, o mercado de trabalho médico, principalmente nas últimas décadas, tem visto seus profissionais serem submetidos a jornadas de trabalho cada vez maiores a fim de poderem manter um padrão de vida digno com o status social que a profissão lhe traduz.

“A baixa remuneração praticada por planos de saúde e por serviços públicos, a pouca autonomia profissional e deficientes condições de trabalho tem levado os médicos a trabalharem até 60 horas semanais em cerca de três ou mais vínculos empregatícios. Essa realidade tem gerado altos níveis de estresse e insatisfação”.

Para Luz, admitir o médico como sujeito vulnerável na relação de cuidador-cuidado é propiciar a abertura de horizontes que permitem a prática de um cuidado ou até de uma ética do cuidado em relação a esses profissionais. “Resgatar a dignidade enquanto pessoas humanas desses profissionais deve ser uma busca incessante. E a função da ética não é simplesmente teorizar, mas sim tomar decisões, em que fique claro o que se deve ou não fazer”, concluiu o psiquiatra.

Grifo nosso
Fonte: CFM
Imagem: CFM

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