O jovem médico depara-se com uma série de questões iminentes da
Medicina logo no início de sua carreira e, apesar de uma rotina estressante que
afeta sua saúde física e mental, muitos tendem a não procurar ajuda.
Esta problemática foi abordada
nesta quinta-feira (11), em Brasília (DF), durante o I Fórum Nacional de
Integração de Médico Jovem do Conselho Federal de Medicina (CFM). O encontro é
transmitido em tempo real.
Segundo a conselheira do Conselho Regional de Medicina do Estado de São
Paulo (Cremesp), Kátia Burle Guimarães, há indícios de que o estresse do médico
começa já durante a graduação. Ela apresentou pesquisa realizada com alunos a
partir do 5° ano onde apontou que em 63,71% dos casos havia predominância de
sintomas psíquicos.
O levantamento apresentado pela conselheira também mostrou que 60,1% das alunas tinham estresse, enquanto
entre os homens, esse número cai para 41,06%.
Para Burle, há uma tendência elevada nas mulheres, devido “à propensão
a serem mais sensíveis, absorverem mais os dramas que seus pacientes enfrentam,
além da questão da maternidade tardia, devido à necessidade de dedicação à
profissão”.
O problema da saúde física e mental do médico já é observado também na
residência médica.
De acordo com o professor da Universidade Federal de São Paulo
(UNIFESP), Luiz Antônio Martins, há sintomas depressivos em 28,9% dos
Residentes, em seu primeiro ano. “A depressão e a privação do sono são os mais
significativos problemas que afetam os residentes e têm sido considerados,
respectivamente, como a principal reação ao treinamento e um dos mais
importantes fatores estressantes.
A privação do sono poderá levar comprometimento do desempenho clinico,
maior incidência de erros e aumento do tempo necessário para exercer tarefas”,
alertou.
Dependência - Os problemas mais comuns, que acometem os
médicos que lidam diariamente com situações de alto nível de exigência física e
mental, são a dependência de álcool ou de drogas, as doenças afetivas,
distúrbios alimentares, demências e/ou delirium provocados pelo consumo de
álcool e transtornos de personalidade.
Segundo o coordenador da Unidade de Pesquisa em Álcool e Droga da
Universidade Federal de São Paulo, Cláudio Jeronimo da Silva, além da
convivência com situações de estresse, as resistências que os médicos têm em
admitir que estejam passando por algum problema em relação à saúde física ou
mental fazem com que levem, em média, sete anos e meio para procurar ajuda
médica, correndo o risco de a doença se agravar.
“Um em cada 15 médicos apresenta problema atuais de drogas e álcool. Em
geral há uma dificuldade geral do médico em aceitar o papel de paciente.
Observamos que na maioria das vezes os profissionais se sentem envergonhados em
procurar ajuda de um colega”, declarou Silva.
Suicídio – A literatura mundial tem chamado a atenção
para a ocorrência de um dado fenômeno: o número de suicídios cometidos por
médicos é até cinco vezes maior do que a população geral. E, diferente do
observado, as mulheres médicas possuem um risco ainda maior. As profissões com
maiores taxas de suicídio são médicos, dentistas, operários, policiais,
jornalistas e artistas.
Segundo o conselheiro dos Conselhos Federal e Regional de Medicina do
Piauí, Leonardo Luz, que pesquisa sobre o tema, o mercado de trabalho médico,
principalmente nas últimas décadas, tem visto seus profissionais serem
submetidos a jornadas de trabalho cada vez maiores a fim de poderem manter um
padrão de vida digno com o status social que a profissão lhe traduz.
“A baixa remuneração praticada por planos de saúde e por serviços
públicos, a pouca autonomia profissional e deficientes condições de trabalho
tem levado os médicos a trabalharem até 60 horas semanais em cerca de três ou
mais vínculos empregatícios. Essa realidade tem gerado altos níveis de estresse
e insatisfação”.
Para Luz, admitir o médico como sujeito vulnerável na relação de
cuidador-cuidado é propiciar a abertura de horizontes que permitem a prática de
um cuidado ou até de uma ética do cuidado em relação a esses profissionais.
“Resgatar a dignidade enquanto pessoas humanas desses profissionais deve ser
uma busca incessante. E a função da ética não é simplesmente teorizar, mas sim
tomar decisões, em que fique claro o que se deve ou não fazer”, concluiu o
psiquiatra.
Grifo nosso
Fonte: CFM
Imagem: CFM
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