Em
artigo publicado no jornal O Globo, intitulado Carta de um Médico Para a Presidente da República, o Dr. Roberto
Cacciari, profissional da cidade de Catanduva-SP,
lamenta a atual situação da classe médica brasileira.
Incentivado
pela visita de Dilma Rousseff ao
município, ele é enfático nas críticas.
“Desculpe-me
não poder aplaudi-la hoje. Eu estava trabalhando, como sempre. A propósito, é
isso que os brasileiros mais fazem para tentar consertar o seu desgoverno.
Confesso, adoro trabalhar. Isso não é problema para mim. Porém, trabalhar sem
perspectivas de mudança e melhoria, isso me incomoda. Cansamos de improvisar para resolver os desatinos do seu governo. Quem
gosta de dar um jeitinho em tudo, são vocês aí de cima; nós, médicos,
cansamos!”
Dr.
Cacciari é especialista em Medicina Integrativa Personalizada.
Segundo
ele, o estopim da sua indignação foi a
exigência da presidente, de um leito de UTI reservado apenas para atender um
eventual problema.
“Nossos
pacientes que vivem à espera de um leito, às vezes até morrem aguardando, como
ficam? A senhora deveria dar o exemplo: primeiro, como cidadã que se preocupa
com seus pares, cedendo sua vaga para aqueles que realmente precisam; segundo,
como autoridade, indicando a postura a ser seguida. Agindo como fez, reiterou o
caos que se encontra a saúde pública desse país”.
Fazendo
menção a si próprio, o médico salienta que “se precisasse de vaga de UTI,
deveria aguardar na emergência até surgir um leito. Poderia demorar dias, até
semanas. Aliás, é assim que funciona. A senhora não sabia? Passe uns dias aqui
conosco para averiguar”.
Cacciari
diz que a exigência presidencial de
leito reservado na UTI de hospital na cidade prejudicou o serviço local.
“No hospital de nossa cidade atendemos outras 19 cidades circunvizinhas que
encaminham seus pacientes para cá. Nossa emergência vive lotada, os corredores
contêm macas por todos os lados. Alguns pacientes aguardam dias até surgir uma
vaga na enfermaria”, lembrou.
“Como
se não fosse suficiente a reserva no hospital tirando leito de quem precisa, ainda solicitou que três viaturas do SAMU
estivessem ao seu dispor.
Senhora
presidente, trabalho no SAMU há seis anos. Conheço muito bem as necessidades e
prioridades desse serviço. Cobrimos, 24 horas por dia, 19 cidades. Muitas vezes
precisamos de suporte de mais viaturas para atender ocorrências com inúmeras
vítimas, porém não temos disponível, nem profissionais”, diz a carta.[...]
[...] Por fim, o médico pede que a presidente “nos represente com honestidade e cuide
de nossa população, ainda mais dos que precisam de condições mínimas de saúde”.
Indignado,
Roberto Cacciari conclui dizendo que
“não temos que agradecer nada que a senhora fez, pois não fez mais do que a
obrigação. O dinheiro é nosso, a cidade é movida pelo nosso empenho. O povo é
seu patrão! Portanto, da próxima vez, nem venha. Trabalhe! Busque soluções
concretas para o poço sem fundo que o país está. Rápido, antes que nosso Brasil
vire pó”.
Grifo nosso
Fonte:
oglobo.com/setorsaude.com.br
Imagem: Reprodução
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