Um recente estudo da Escola de
Medicina da Universidade de Indiana e do Instituto Regenstrief (ambos dos EUA) fornece evidências
quantitativas que sustentam a crença que liga a capacidade reflexiva dos
estudantes de medicina a comportamentos profissionais dos futuros médicos.
Lapsos de profissionalismo são a causa mais comum para ações
disciplinares contra a prática de médicos.
De acordo com o estudo, é possível identificar precocemente o problema
e, assim, evitar futuros comportamentos de risco.
Richard M. Frankel, pesquisador do Instituto Regenstrief, professor de
medicina na Universidade de Indiana e co-autor do estudo – publicado
originalmente no jornal da Associação Americana de Faculdades de Medicina –
destaca que “é importante identificar os estudantes em risco de falhas
profissionais e proporcionar-lhes a ajuda e a formação necessárias para evitar
lapsos de profissionalismo no futuro”.
“Os estudantes de medicina sabem
o que é certo ou errado, mas nem sempre refletem sobre as consequências a curto
e longo prazo de suas ações”,
avalia Dr. Frankel.
“Por exemplo, copiar e colar fontes e informações da
Internet sem atribuição, o que alguns estudantes acreditam que é admissível, é
na verdade uma forma de plágio, assim como é copiar e colar registros médicos
eletrônicos dos pacientes.
Não ver ou refletir sobre a ligação entre estes
dois tipos de comportamentos podem representar um risco, e favorecer o
cometimento de má práticas no exercício profissional futuro. Ao melhorar a
formação dos alunos na prática reflexiva, podemos aumentar a sua consciência e
vigilância no que diz respeito ao profissionalismo”, completa o investigador.
Ao focar em alunos que frequentaram a faculdade de medicina entre 2001
e 2009, o estudo descobriu que aqueles
com desempenho reflexivo mais baixo, conforme determinado por uma narrativa
escrita da atribuição do profissionalismo durante o terceiro ano de faculdade
de medicina, possuem maior probabilidade de serem citados por lapsos de
profissionalismo.
Aos alunos que foram apontados com essas características, foi requerido
que comparecessem no Comitê de Acompanhamento do Estudante para avaliar a causa
pela qual eles pretendem continuar os estudos médicos.
“A reflexão incentiva os alunos a pensarem sobre as consequências de
seus comportamentos e considerar as perspectivas dos outros. Isso ajuda a
melhorar a sua capacidade de empatia, compaixão e o foco centrado no paciente,
e é importante para o seu desenvolvimento profissional”, considerou Leslie
Hoffman, da Escola de Medicina Fort-Wayne (da Universidade de Indiana). “Os alunos com baixa pontuação de reflexão
podem precisar de orientação adicional para garantir o desenvolvimento de
atitudes e valores profissionais”.
Cada estudante foi convidado a refletir sobre um prontuário,
descrevendo uma experiência pessoal durante a residência médica, quando eles
interagiram com os pacientes e outros médicos e aprenderam algo sobre
profissionalismo.
Os relatos foram identificados e discutidos em pequenos grupos de
participantes da pesquisa. As narrativas reflexivas escritas por 70 estudantes
de medicina que haviam sido citadas com lapsos de profissionalismo foram
comparadas com os de um grupo de 229 estudantes de medicina selecionados
aleatoriamente que não tiveram detectadas deficiências de profissionalismo.
Exemplos de lapsos profissionais incluíram falsificar registros médicos dos
pacientes, ausência de responsabilidades clínicas, assinar presença em uma
palestra para outra pessoa, não requerer vacinas necessárias para a segurança
do paciente, entre outras formas violadoras da boa conduta profissional
requerida.
Os alunos do grupo que havia sido citado com falta (ou lapso) de
profissionalismo tiveram escores (de reflexão) significativamente mais baixos
do que os alunos do grupo de controle.
Um depoimento de um dos estudantes que tinha cometido um lapso de
profissionalismo descrevia os cuidados com um paciente complexo – levando em
consideração as necessidades do paciente, suas preocupações e desafios –
afirmando que o paciente estava satisfeito.
No entanto, o que faltava, de acordo com os autores do estudo, era um
senso de perspectiva do aluno, uma avaliação mais detalhada dos elementos da
prestação de serviço visando resultados, e as lições que o estudante adquiriu
com a experiência que podem ajudar a planejar a prática da medicina.
Um exemplo de uma narrativa de
profissionalismo do grupo controle envolvia uma mulher idosa que precisava de
um procedimento cardíaco. Um
estudante, que não havia sido identificado com lapso de profissionalismo,
escreveu que quando estava levando a paciente para realizar o procedimento, uma
equipe cardíaca chegou e levou a paciente até o elevador sem se apresentarem ou
dizer o que estavam fazendo, assustando o paciente.
O estudante explicou o que
estava acontecendo para a paciente e acompanhou-a para a sala de procedimento,
onde o cardiologista não se apresentou antes de começar a trabalhar sobre a
paciente. Apesar do risco de embaraçar ou irritar o cardiologista, o estudante
agiu de forma a confortar a paciente e observou que isso ajudou a chegar em uma
conclusão bem-sucedida do procedimento.
A análise das narrativas não encontrou relação entre gênero e lapsos de
profissionalismo.
Este estudo encontrou uma associação significativa entre a capacidade
reflexiva e profissionalismo, embora os resultados sejam muito preliminares
para inferir uma relação causal. No entanto, as atividades reflexivas parecem
ser uma adição valiosa para o currículo médico, como uma forma de ajudar os
estudantes a desenvolver profissionalismo, ou como um meio pelo qual os alunos
podem demonstrar seu profissionalismo.
Há também uma terceira
possibilidade, que não é uma
relação causal linear, mas sim uma relação circular em que um aumenta o outro.
Independentemente da finalidade, as atividades reflexivas devem ser
efetivamente integradas ao currículo, para não serem encaradas como uma
reflexão tardia desligada da experiência educacional em geral.
“Para que os alunos reconheçam a importância da reflexão, as atividades
devem ser acompanhadas de uma cultura que valorize o pensamento aprofundado e
os objetivos para desenvolver profissionais mais reflexivos”, conclui o estudo.
Grifo nosso
Fonte: setorsaude.com.br
Imagem: medimagem.com.br
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