Os médicos e atletas
brasileiros podem contar a partir desta sexta-feira (11) com um GUIA PRÁTICO com orientações objetivas, sobre os riscos do doping causado pelo uso de
medicamentos e suplementos.
O
documento de 72 páginas foi produzido pela Câmara Técnica de Medicina do
Esporte do Conselho Federal de Medicina (CFM) e contou com a contribuição de
especialistas da Sociedade Brasileira de Medicina do Esporte (SBMEE), do Comitê
Olímpico Brasileiro (COB), do Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB), da
Confederação Brasileira de Futebol (CBF) e da Autoridade Brasileira de Controle
de Dopagem (ABCD).
Além do lançamento do
guia, que acontece hoje durante o IV Fórum de Medicina do Esporte, o Conselho
Federal de Medicina e as outras entidades devem anunciar ainda um esforço
conjunto para combater o doping. A intenção é conscientizar de um lado os
competidores sobre os riscos do uso inadvertido de fórmulas e os médicos e os
profissionais da saúde sobre os efeitos que determinados medicamentos podem
gerar. Para o presidente do CFM, Carlos Vital, a expectativa é criar uma rede
colaborativa de ética e boas práticas esportivas. [...]
Lacuna
– O trabalho, que será encaminhado a todos os médicos
brasileiros, em especial aqueles que atuam em áreas como ortopedia,
traumatologia, cardiologia e endocrinologia, preenche uma importante lacuna. O
texto traz informações sobre substâncias consideradas válidas, mas com consumo
não liberado entre competidores por interferirem em seu desempenho e por
provocarem ganho de força, velocidade ou resistência.
Os atletas
profissionais ou de alta performance de todas as modalidades são os mais
vulneráveis pela ingestão indevida desses produtos, pois são rotineiramente
submetidos a testes de doping.
Contudo, os praticantes
de atividade física amadores também podem ser prejudicados, com o aumento do
rigor na fiscalização de provas específicas para esse grupo. De acordo com
Hésojy Gley Pereira Vital da Silva, do CPB e responsável pela elaboração do
documento, a tendência é que as análises para identificar casos de dopagem
passem ser comuns em eventos não profissionais.
Situação
do Brasil – Segundo a ABCD, o doping é
caracterizado pela utilização de substâncias ou métodos proibidos capazes de
promover alterações físicas ou psíquicas que melhoram artificialmente o
desempenho esportivo do atleta. No Brasil, o Tribunal de Justiça Desportiva Antidopagem,
criado em 2016, já puniu cerca de 30 atletas pelo uso de substâncias proibidas
– alguns casos estão em grau de recurso. Ao todo, aproximadamente 70 processos
tramitam na Corte.
Já o relatório mais
recente publicado pela WADA (sigla em inglês da Agência Mundial Antidoping),
também de 2016, dentre os 34 laboratórios certificados pela entidade espalhados
em 29 países pelo mundo, o Brasil possui a 10ª menor média de Resultados
Analíticos Adversos (AAF, na sigla em inglês), que são os casos onde foram
identificadas substâncias proibidas nos exames de doping.
Das 9.465 amostras
submetidas a exames de urina e sangue, 98 apresentaram resultados positivos
(AAF), número que representa 1,04% do total das amostras. O número está abaixo
da média mundial (1,60%), calculada a partir dos dados coletadas pelos 34
laboratórios certificados pela WADA. Cerca de 60% das amostras foram realizadas
em competições oficiais e os outros 40%, fora de competições oficiais.
Além disso, outras 716
amostras foram coletadas para serem submetidas ao exame do Passaporte Biológico
do Atleta (ABP), que analisa a saúde do atleta a partir de dados sanguíneos em
busca de alterações. Com os avanços científicos e tecnológicos, o crescimento
desse tipo de exame já é perceptível. Só no Brasil, os números saltaram de 101
coletas, em 2015, para 716 no ano seguinte.
Aumento
de casos – Entre os anos de 2015 e 2016, houve
um aumento expressivo do percentual de resultados positivos a nível mundial,
saltando de 1,26% para 1,60%. Esse aumento, segundo aponta o próprio relatório
da WADA, está diretamente ligado a inclusão do Meldonium entre as substâncias
proibidas. O fármaco ficou mundialmente conhecido após a denúncia de doping da
tenista russa Maria Sharapova.
Trata-se de uma
substância usada para tratamento de pacientes com problemas cardíacos e
normalmente é receitado para quem sofre de isquemia do coração, doenças
neurodegenerativas, pulmonares e doenças do sistema imunológico. Dentre as 721
ocorrências de uso de substâncias classificadas como Moduladores Metabólicos e
Hormonais, o Meldonium foi responsável por 71% dos casos.
Entre
os atletas amadores, uma das substâncias mais comuns é a Eritropetina,
um hormônio que eleva a produção de células vermelhas pelo sangue. Ao aumentar
a capacidade de transporte de oxigênio pelo sangue, a substância,
consequentemente, permite a produção de energia aeróbica e melhora o rendimento
em provas longas e extenuantes.
O medicamento é
indicado para doenças que afetam a produção de células vermelhas e o uso indevido
pode acarretar em doenças como trombose, além de aumentar as chances de um
infarto ou um Acidente Vascular Cerebral (AVC). O caso mais famoso de dopagem
por Eritropetina é o do ciclista americano Lance Armstrong, que ficou conhecido
por ter vencido o Tour de France sete vezes (de 1999 a 2005). Armstrong teve
todos seus títulos cassados e perdeu todos os patrocínios.
Nas
academias, por exemplo, as substâncias mais comuns são os
esteroides anabolizantes, hormônios produzidos sinteticamente a fim de
substituir a testosterona. Nomes como androsterona, dianabol e drostanolona são
recorrentes nesse meio e, inclusive, de fácil acesso em farmácias convencionais
ou nas de manipulação.
Em geral, os efeitos
buscados são a perda de gordura e o aumento da massa muscular, mas os efeitos
colaterais são diferentes em homens e mulheres. Nas mulheres, há o
desenvolvimento de características masculinas como o engrossamento da voz,
crescimento de pelos e aumento da força física, assim como perda de gordura e
aumento da massa muscular. Já nos homens ocorre o inverso. Ao injetar hormônios
extras, o corpo masculino entende que não precisa mais produzir e isso leva a um
atrofiamento dos testículos.
Em 2007, durante os
Jogos Panamericanos do Rio de Janeiro, a nadadora brasileira Rebeca Gusmão foi
acusada no exame antidoping por altas taxas de testosterona no corpo. Na época,
a nadadora perdeu as quatro medalhas conquistadas na competição – dois ouros,
uma prata e um bronze, além de ser banida do esporte olímpico.
Debate
– Com a aproximação de um dos maiores eventos esportivos
do Mundo, a Copa do Mundo de Futebol, o CFM, juntamente com entidades médicas e
esportivas, promove nesta sexta-feira (11) o IV Fórum de Medicina do Esporte,
em Brasília (DF), durante o qual será lançado o guia.
A expectativa é
reacender as discussões sobre as regras básicas relacionadas ao doping e à
suplementação alimentar nas modalidades de alta performance. Para o coordenador
da Câmara Técnica de Medicina do Esporte do CFM, Emmanuel Fortes, muitos
atletas são pegos em exames antidoping porque usaram medicamentos prescritos
por médicos que não são do clube e não tinham conhecimento das substâncias
proscritas no esporte.
Segundo ele, o Brasil
já esteve entre o grupo dos dez países com maior número de casos de doping
registrados pela WADA, entidade esportiva internacional que fiscaliza o tema.
“Hoje esse é um problema contra o qual as autoridades brasileiras estão mais
atentas. No entanto, infelizmente o doping tem alcançado muitos adeptos no
esporte amador, principalmente entre aqueles que buscam notoriedade nas redes
sociais”, lamentou.
Grifo nosso
Fonte: CFM
Imagem: mundodaforma.com.br
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