Das
primeiras cidades a receber profissionais do Mais Médicos, quase metade (49%)
tinha, após menos de um ano, uma quantidade menor de médicos na rede pública
municipal do que no dia em que os bolsistas chegaram.
Além
disso, ao menos um de cada três médicos
do programa trabalhava sem a supervisão prevista nas regras.
Essas
são algumas das constatações de uma
auditoria do TCU (Tribunal de Contas da União) no principal programa social
do primeiro mandato da presidente Dilma Rousseff, usado como vitrine na campanha
de reeleição.
Para o órgão de controle, o
Ministério da Saúde não faz um monitoramento adequado "para assegurar que os municípios
não substituam médicos que já compunham equipes de atenção básica pelos
participantes do projeto nem que haja redução do número de equipes".
Os
ministros do TCU determinaram à pasta a abertura de apuração sobre o caso.
O
ministério informou à Folha que os municípios foram notificados e apresentaram
justificativas.
Em
2013, ano inicial do projeto, 1.174 municípios receberam profissionais do
programa, que busca levar médicos ao interior e a periferias das grandes
cidades -para isso, trouxe cerca de 11 mil estrangeiros para o país.
Em
agosto daquele ano, a Folha mostrou que prefeitos de 11 cidades pretendiam
demitir médicos após a chegada dos profissionais do programa.
O
então ministro da Saúde, Alexandre Padilha, disse que, quem fizesse isso,
poderia sair do Mais Médicos.
A
ameaça pode ter tido algum efeito de assustar essas cidades que declararam que
fariam as demissões: quatro das 11 receberam médicos até 2013, sendo que três
aumentaram seus profissionais e só uma reduziu a quantidade.
Pelo
país inteiro, porém, a lógica foi diferente.
Os técnicos do TCU
constataram, ao comparar os médicos existentes em agosto de 2013 e abril de
2014, que 161 cidades (14%) sofreram redução –inclusive somando os
profissionais do Mais Médicos.
Nesses
municípios, havia 2.630 médicos –que, somados aos 262 que chegaram pelo Mais
Médicos, totalizaram 2.892. Em abril de 2014, porém, o TCU constatou só 2.288.
Em
outras 239 cidades, a quantidade estava igual a antes do início do programa.
Em
168 houve aumento, mas em número menor do que a quantidade de profissionais
enviadas pelo Mais Médicos.
Outra
constatação da auditoria é que 31% dos
médicos do programa não tinham um supervisor, espécie de avalista com a
função de auxiliá-los.
O
programa previa essa obrigatoriedade porque a maioria dos estrangeiros não teve
o diploma revalidado.
Nas
entrevistas feitas pelos auditores, 18%
dos médicos admitiram que a falta de conhecimento de protocolos clínicos
atrapalhou o atendimento e 50% afirmaram terem entrado em contato com o
supervisor para tirar dúvidas.
O
ponto positivo mostrado pelo TCU é
que o número de atendimentos de atenção básica, como consultas, subiu 33% nas
cidades atendidas pelo Mais Médicos, ante 14% naquelas sem programa.
Por
outro lado, 25% dos municípios que
receberam o programa diminuíram o número de consultas, o que pode ser um
indício de que os médicos já existentes foram de fato substituídos.
Grifo nosso
Fonte: folha.uol.com.br / Dimmi Amora / Natália Cancian
Imagem: folhapress
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