O
Brasil não precisa de mais escolas médicas para melhorar a precária situação da
nossa saúde pública, e sim, de uma política de governo para a fixação do médico
no interior, além de oferecer condições de trabalho aos nossos jovens médicos ...
Medidas governamentais
importantes são sempre liberadas nos últimos dias de dezembro, quando grande
parte da população está envolvida no clima das festas de final de ano e com as
férias prolongadas. Neste ano que findou a surpresa, para grande parte dos brasileiros,
foi saber que 54,5% dos recém-formados médicos não estão aptos ao exercício da
profissão.
A reação foi de indignação
para este fato, pois há muito tempo os educadores vêm reclamando às nossas
autoridades competentes. A sociedade que não tem acesso a essas informações,
que angustiam os especialistas em educação médica, rejubila-se quando o governo
federal anuncia a criação de novas escolas de medicina. Aqui em nosso Estado
foi anunciada a criação de mais três escolas de medicina, que são vistas pela população
como uma dádiva do governo.
Mas, é uma doce ilusão.
Pensam os desavisados que esta medida trará maiores benefícios para a Saúde
Pública. No período de 2000 a 2012,
foram abertas 98 novas faculdades, totalizando 198 escolas médicas no Brasil.
A presidente anunciou sua vontade de abrir mais 4.500 vagas para alunos de
medicina. Isso significa a criação de algo em torno de 55 novas escolas.
Toda essa avalanche de
expansão de cursos de medicina acontece quando as nossas universidades federais
estão em estado de penúria. Muito mais importante neste momento seria aumentar
as vagas para a residência médica. Aproximadamente 6.000 médicos
recém-graduados não têm condições de frequentar a residência médica,
considerada a etapa mais importante para a formação de profissionais
qualificados.
Outra distorção que merece uma reflexão é com relação à
localização dessas novas escolas. Seria racional se essas escolas fossem
implantadas em áreas mais remotas e carentes desse país tão cheio de
desigualdades.
Entretanto, 70% delas foram
instaladas na região sudeste, rica e com significativo número de escolas e, o
pior é que, 74% delas são privadas, com mensalidades exorbitantes.
A maioria desses centros de
formação de médicos não dispõe de instalações hospitalares adaptadas para o ensino
e carecem de corpo docente qualificado, como bem frisou Miguel Srougi, com
pós-graduação em urologia pela Universidade de Harvard (EUA) e professor
titular de urologia da Faculdade de Medicina da USP (Universidade de São
Paulo).
Todo esse cenário desolador
do nosso ensino médico é patrocinado pelo governo federal, focado em interesses
políticos menores e pelo anseio do lucro desmedido, conclui Miguel Srougi. O
professor Adib Jatene presidiu uma comissão especial do MEC e descredenciou, há
um ano, algumas escolas médicas pela baixa qualidade de ensino.
Pois bem, de maneira
misteriosa e inexplicável, a Comissão Nacional de Educação cancelou a ação
punitiva. O Brasil não precisa de mais escolas médicas para melhorar a precária
situação da nossa saúde pública, e sim, de uma política de governo para a
fixação do médico no interior, além de oferecer condições de trabalho aos
nossos jovens médicos.
Temos
hoje 198 escolas médicas e, segundo a presidente, até 2014 esse número chegará
a 253, para uma população de quase 200 milhões de habitantes.
Em compensação, os Estados
Unidos da América do Norte, habitado por 314 milhões de pessoas, têm 137
faculdades de medicina.“A grande maioria dos novos médicos são vítimas de uma
sociedade permissiva, escolas médicas deficientes e governantes
incapazes”.Estamos transformando esperanças em frustrações.
Gabriel Novis Neves é
médico, professor fundador da UFMT e colaborador de HiperNoticias.
Fonte: Escolas Médicas
Grifo nosso.
Sem comentários:
Enviar um comentário