Esse BLOG considerou interessante o tema da presente reportagem colhida no jornal Folha de São Paulo uma vez que segundo a mesma o Conselho Federal de Psicologia veda a prática de relação que extrapole ou desvirtue o caráter do atendimento.
O Código de Ética Profissional do Psicólogo nas vedações ao psicólogo em seu artigo 2º letra n aduz: "estabelecer com a pessoa do atendido relacionamento que possa interferir negativamente nos objetivos do atendimento".
Trata-se de uma norma abrangente face à complexidade dos termos tal como: "interferir negativamente". Suponha-se que existem casos que poderão prejudicar uns ou beneficiar outros em se tratando de bem estar emocional ou psicológico.
Porém, voltando ao tema, e, hipoteticamente com relação ao Brasil em função da proibição da prática em nosso país, resta saber se a responsabilidade civil nesse particular será de meio ou de fim. Tem-se aí, inexata precisão ao resultado.
Eis a matéria:
A
pessoa tem um problema sexual e vai fazer terapia para tentar resolver. Um dia,
o psicólogo propõe a ela algo mais prático: sessões com um "terapeuta
sexual substituto", profissional que vai para a cama com o paciente.
Pouco difundida, essa
técnica do sexo explícito começa a ser mais conhecida. O motivo é o filme
"As Sessões", que estreou aqui na sexta.
Premiado no Festival
Sundance de Cinema de 2012, o longa fez de Helen Hunt candidata ao Oscar de
melhor atriz coadjuvante de 2013.
Hunt interpreta Cheryl Cohen
Greene durante terapia sexual com o poeta Mark O'Brien (John Hawkes),
paralítico.
Divulgação
Helen Hunt como a terapeuta
Cheryl Greene e John Hawkes como o paciente em cena do filme "As
Sessões"
Aproveitando o sucesso do
filme, Greene lança seu livro "As Sessões: Minha Vida como Terapeuta do
Sexo" (BestSeller, 280 págs., R$ 29,90), em que conta sua história e a de
vários outros clientes, além de O'Brien.
Virgem aos 38 anos, O'Brien
acaba aprendendo com Greene a manter suas ereções espontâneas, a penetrar uma
mulher (ela) e a levá-la ao orgasmo.
Essa modalidade terapêutica
foi criada nos anos 1960/1970 pelo casal de sexólogos americanos William Master
e Virgínia Johnson, os primeiros a preconizar um tratamento exclusivamente
sexual.
"Eles passaram a tratar dificuldades sexuais com terapia
comportamental, usando as terapeutas substitutas para 'treinar' o paciente a
fazer sexo", diz a psiquiatra Carmita Abdo, coordenadora do programa de
estudos de sexualidade da USP.
Após a revolução sexual,
surgiram outras técnicas, e a do substituto sexual não ficou entre as mais
valorizadas.
QUESTÕES ÉTICAS
"Do ponto de vista
teórico é interessante, mas na prática incide em uma série de questões. É fácil
de executar? Não. É eficiente? Não temos dados. E levanta muitas dúvidas
éticas", diz Abdo.
"Sexo entre terapeuta e
paciente ocorre mais do que imaginamos. É danoso: a pessoa depositou confiança
no profissional e fica à mercê dele. É quebra de contrato", diz Araceli
Albino, presidente do Sindicato dos Psicanalistas do Estado de São Paulo.
O CFP (Conselho Federal de
Psicologia) veda relação sexual entre terapeuta e paciente. Nos EUA, o trabalho
do substituto sexual é legal, desde que indicado e supervisionado pelo
profissional de psicologia que conduz a terapia verbal com o cliente.
A relação
"terceirizada" teria vantagens. Para Abdo, se a terapia com o
substituto sexual for bem conduzida, poderá evitar que o paciente fique
dependente do terapeuta e prepará-lo para fazer sexo satisfatório com outros.
"Se a terapia sexual
com o substituto for escolha do paciente e ele continuar a terapia verbal, vai
conhecer melhor seu corpo sem deixar de trabalhar o psiquismo. O avanço pode
ser maior do que ficar só falando", diz Albino.
O método é
"temerário" para Aluízio Lopes de Brito, secretário de ética do CFP:
"Tirar bloqueios sexuais é bom, mas desperta um mundo de emoções na pessoa
e ela terá que lidar com isso".
SEXO DE RESULTADOS
A terapia que acaba na cama
retratada no filme "As Sessões" e no livro de Cheryl Greene está
distante conceitualmente de terapias que incluem o contato físico.
"Trabalhamos o corpo
que pensa, faz vínculo, tem história. Para tratá-lo não precisa ser tão
concreto, pegar, manipular, transar", diz a terapeuta Regina Favre, de São
Paulo. Favre é da primeira geração da terapia do corpo no Brasil, um grupo que
experimentava a força libertadora do sexo nos tempos da revolução sexual.
"Era libertador na
década de 1970, não é mais. O problema, hoje, é que a pessoa quer ser perfeita,
quer ter um bando de gente achando que ela é um tesão. Daí cria-se mercado para
isso. E a técnica da terapeuta sexual substituta é um produto desejável."
Um produto, porque vende a
sexualidade desejada como uma questão técnica, segundo o psicólogo carioca João
da Mata, da Universidade Federal Fluminense.
Seguidor do alemão Wilhem
Reich (1896-1957), Da Mata diz que as terapias de origem reichiana não são
direcionadas da mesma forma que as sessões de Greene.
"Eu não diria que o ato
sexual é terapia, mas que é terapêutico: tem capacidade de transformar,
mobilizar a energia vital. Podemos trazer essa experiência com o contato
corporal, a troca emocional."
Para ele, o interessante da
terapeuta sexual substituta é "mostrar a importância da sexualidade
inclusive como fonte de saúde física".
Segundo Favre, "pode
ser saudável e gerar bem-estar, mas tratar o ato sexual como um procedimento
médico é mecanicista e simplificador".
"A terapeuta substituta
é vista como uma fisioterapeuta que vai colocar um ombro no lugar, uma
fonoaudióloga que vai treinar alguém para parar de gaguejar, uma enfermeira
carinhosa que não sente repulsa do paciente", diz.
Só que não. "Nessas
sessões de terapia sexual, por trás do prazer genital, tem uma pessoa, que está
sendo estimulada.
E isso vale para os dois lados, terapeuta e paciente. Não dá
para ter um distanciamento que garanta o não envolvimento pessoal."
Comentários: João Bosco
Grifo nosso
Fonte: Folhaonline
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