segunda-feira, 6 de julho de 2015

Novas regras dificultam cesáreas em plano de saúde a partir desta segunda

Grávida terá de assinar  Termo de Consentimento sobre tipo de parto

A ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar) nega que as novas regras possam trazer prejuízos às pacientes, como um possível cenário de desassistência para quem prefere cesárea.

O órgão diz que o parto é um dos procedimentos obrigatórios dos planos de saúde e recomenda às gestantes que, em caso de problemas, entrem em contato com a operadora, que deve disponibilizar outro obstetra.

"As operadoras não podem negar a cobertura, ou estarão sujeitas às penalidades previstas pela legislação", afirma a ANS em nota.

Para evitar problemas, a agência planeja finalizar ainda neste mês, em parceria com entidades médicas, um termo de consentimento livre e esclarecido, que deve ser assinado pelas gestantes.

A ação visa impedir que médicos deixem de atender a quem quer o procedimento.

"A paciente tem essa opção. É dada pela própria Constituição e no Código de Ética Médica, então não podemos excluir esse direito", diz a gerente de regulação assistencial da ANS, Raquel Lisbôa.

Em janeiro, no entanto, o então presidente da agência, André Longo, afirmou que os planos poderiam reter o pagamento dos médicos caso o partograma mostrasse que houve uma cesárea "desnecessária". "É tudo o que a operadora quer", disse.

Com a nova medida, os médicos deverão anexar o termo de consentimento junto a um relatório para que possam receber pelo serviço.

A solução, no entanto, ainda gera embate com obstetras. 


O principal motivo é o prazo: para a ANS, o ideal é que a mulher assine o termo só na 39ª semana, no fim da gravidez, o que garantiria que a cesárea não foi antecipada.

Já os médicos defendem que haja um acordo logo após as primeiras consultas.

"Faltando 15 minutos, não dá para dizer: 'Assine aqui'", diz José Hiran Gallo, do Conselho Federal de Medicina.
Em nota, a FenaSaúde, entidade que representa as maiores operadoras de planos de saúde, diz que a opção por parto normal ou cesárea é um "direito da gestante".

"Quando a parturiente não acatar a orientação do médico, é de praxe a paciente assinar termo de responsabilidade por sua escolha", diz.

A associação diz ainda que não tem registros de descredenciamento de obstetras dos planos devido à nova norma.

TAXAS DE CESÁREAS

Além do partograma, as novas regras preveem que os pacientes possam solicitar as taxas de cesárea de profissionais e hospitais.

A ideia é auxiliar as mulheres que desejam fazer o parto normal a encontrarem o serviço.

A medida é vista pela categoria como uma forma de "condenar" os profissionais.

"Colocar um carimbo no médico com o número de cesáreas não vai resolver", diz o diretor da Sogesp (associação de obstetrícia e ginecologia de São Paulo), César Eduardo Rodrigues.

Para ele, a divulgação das cesáreas por obstetra pode gerar interpretações erradas –em casos, por exemplo, em que o médico é especialista em gestação de alto risco.

Etelvino Trindade, da Febrasgo, defende que haja um trabalho em conjunto com o setor para corrigir outros fatores que levam à preferência por cesáreas, como a dificuldade em encontrar vagas em maternidades e a baixa remuneração dos obstetras pelos planos de saúde.

"Isso não é um problema que resolva por legislação ou desejo de grupos".

Lisbôa, da ANS, rebate. "É claro que vai ser necessário outras medidas. A tentativa é de sensibilizar, mas sabemos que existe uma cultura que precisa ser mudada", afirma ela, para quem as atuais taxas de cesáreas nos planos são "inaceitáveis".

"A cesárea não indicada aumenta dos riscos de morte materna e de complicações ao bebê. É uma questão de saúde pública". [...]

PERGUNTAS E RESPOSTAS

Para que serve a norma?

Segundo a ANS, o objetivo é estimular o parto normal e diminuir o número de cesáreas nos planos de saúde;

Por que a ANS quer reduzir cesáreas?

Para a agência, cesarianas desnecessárias aumentam o risco de problemas respiratórios do bebê e de mortalidade da mãe;

E se a gestante optar pela cesárea?

O médico deve encaminhar, junto a um relatório médico detalhado, um termo de consentimento livre e esclarecido assinado pela paciente. Segundo a ANS, a operadora não poderá negar a cobertura;

Quando esse termo deve ser assinado?

Para a ANS, o ideal é que ocorra na 39ª semana. O prazo, no entanto, ainda deve ser definido com entidades médicas;

Ainda é possível agendar a cesárea?

Depende do caso. A medida prevê que o tipo de parto seja decidido pelo médico e a paciente juntos após o início do trabalho de parto. Em casos específicos, como gestações de alto risco, o médico pode encaminhar ao plano de saúde um relatório que justifique a opção adotada;

Meu médico disse que não faz parto normal

A paciente deve entrar em contato com a operadora do seu plano de saúde, que pode disponibilizar outro profissional ou hospital que faça esse atendimento. Se isso não ocorrer, a paciente pode enviar uma reclamação à ANS. O tipo de parto, no entanto, deve ser definido conforme a indicação clínica;

Para que servem as taxas de cesárea?

Segundo a ANS, as informações podem ajudar a paciente a ter mais informações para optar por serviços de um médico ou estabelecimento -caso de mulheres que têm dificuldade em encontrar médicos que façam parto normal, por exemplo.


Grifo nosso
Adaptação: João Bosco
Fonte: ANS, Febrasgo, Sogesp / folhauol.com.br
Arte: Editoria de Arte/Folhapress / Mauro Pimentel

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