A Comissão de Educação, Cultura e
Esporte (CE) promoveu na quarta-feira (20) audiência pública interativa para
discutir o currículo pediátrico global, a ser adotado pelos residentes em
pediatria.
Dos 270 programas de residência
médica em pediatria existentes no país, apenas 22 possuem duração de três anos
e seguem os moldes do currículo elaborado pelo Consórcio Global de Educação
Pediátrica (GPEC).
Por considerar que a formação tradicional de dois anos não mais atende
às necessidades de formação desses especialistas, a Sociedade Brasileira de Pediatria
(SBP) cobra do Ministério da Educação (MEC) providências para que o novo modelo
seja rapidamente adotado em todos os serviços de residência.
O apelo foi feito durante audiência publica realizada nesta
quarta-feira (20) pela Comissão de Educação, Cultura e Esporte (CE). A sugestão
para a audiência partiu do senador Cristovam Buarque (PSB-DF), que se revezou
na direção dos debates com o colega Dário Berger (PMDB-SC).
Um dos participantes foi o presidente da SBP, Eduardo da Silva Vaz, que
alertou sobre a defasagem existe na formação dos profissionais, destacando que apenas no Brasil ainda se faz residência em
apenas dois anos.
— A criança americana vale mais
do que a criança brasileira?
Não. Portanto, precisamos dar para a nossa criança um profissional com
qualidade adequada. Não estamos querendo nada de mais; queremos apenas preparar
o pediatra para que ele responda aos anseios da população — defendeu.
Competências
O Consórcio Global de Educação Pediátrica, de onde vem a ideia do
currículo, reúne instituições qualificadas em pediatria de 55 países, como
China, Japão, Estados Unidos, Alemanha e Brasil.
Segundo o médico Dioclécio Campos Júnior, que representa a SBP na
entidade, o currículo surgiu da preocupação com a qualidade da formação,
baseado nas competências, habilidades e atitudes que o pediatra deve adquirir,
de forma que possa trabalhar de maneira relativamente uniforme nos diferentes
países.
O novo currículo inclui temas
como violência, cuidados paliativos, medicina do esporte e saúde bucal, além de
aprofundar a questão da saúde mental e da puericultura, com ênfase na
influência do meio ambiente no crescimento e no desenvolvimento da criança.
Também torna obrigatório o estudo das doenças crônicas e amplia o
treinamento em adolescência.
Descuido
Campos Júnior, que foi professor titular em pediatria da Universidade
de Brasilia (UnB), onde dirigiu programas de pós-graduação, explicou que, depois
de longo processo, em 2013 o novo currículo foi aprovado Comissão Nacional de
Residência do MEC.
Porém, por descuido, ficou de fora ata da reunião o prazo final a ser
cumprido na implantação progressiva do novo currículo em todas as residências
médicas.
— O Brasil, que era antes uma exceção no mundo, por ser o único país
que ainda formava um pediatra em apenas dois anos, passou para a formação em
três anos.
Mas, com esse descuido burocrático-administrativo, a questão se
arrasta, e hoje nós ainda temos mais uma exceção lamentável: o Brasil é o único
país que forma, hoje, pediatra em dois ou três anos — lamentou.
Combinação
O diretor de Desenvolvimento da Educação em Saúde MEC, Rodrigo Chaves
Pena, assegurou que não existe morosidade no processo de renovação curricular
nas residências em pediatria.
Apesar das reclamações, ele disse que a pasta está seguindo o que foi
combinado com a SBP.
A partir de 2014, foi feita a implantação do novo sistema
em dez serviços de residência, na forma de um programa piloto.
Ele informou que
agora já estão envolvidos 22 hospitais, considerados referências em atendimento
pediátrico.
Formação desatualizada
A professora Sandra Grisi, titular do Departamento de Pediatria da
Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), reforçou a
necessidade de mudanças na formação do pediatra brasileiro, para que seja um
garantido melhor atendimento às crianças.
Segundo ela, a formação atual
ainda está apoiada na prevalência de problemas de saúde infantil das décadas de
70 e 80.
Ela observou que, nesse tempo, os principais problemas eram a
desnutrição e doenças agudas como as respiratórias, gastrointestinais e de
pele.
— Como se tudo isso não bastasse, nós temos ainda um grande avanço
tecnológico e temos que preparar o pediatra para conduzir a atenção à saúde da
criança utilizando todas as novas tecnologias — destacou.
Grifo nosso
Fonte: Agência Senado/ Geraldo Magela
Imagem: noticias.band.uol.com.br
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