Comissão
do CFM, com apoio da SBA, irá desenvolver um projeto de apoio a
anestesiologistas com problemas de dependência química.
Durante
o "I Simpósito Internacional de
Saúde Ocupacional dos Anestesiologistas", foi anunciado a formação de uma
"Comissão Nacional para Assistência Ética e Médica do paciente
médico-anestesiologista com dependência química" , formada por
representantes das Câmaras Técnicas de Anestesiologia e Psiquiatria pelo
Conselho Federal de Medicina (CFM) e com apoio da Sociedade Brasileira de
Anestesiologia (SBA).
Esta
Comissão irá desenvolver um projeto de apoio a médicos anestesistas que tenham
problemas de dependência química e queiram se tratar.
O
Conselho Regional de Medicina de São Paulo (Cremesp) já oferece este serviço,
só que para médicos de todas as especialidades.
"Vamos
começar nacionalmente com foco nos médicos anestesiologistas como um projeto
piloto, pois é a especialidade que concentra proporcionalmente o maior número
de médicos com dependência, para depois estendermos esta assistência a todos os
médicos brasileiros", informou o 1º secretário e diretor de Comunicação do
CFM, Desiré Callegari. [...]
[..] De acordo com o psiquiatra Hammer Palhares,
um dos palestrantes do Simpósio, a dependência de drogas tem sido descrita como
o principal problema relacionado à segurança e saúde dos anestesiologistas.
Palhares,
que é especialista no tratamento de dependência química, falou sobre o tema
"Prevalência da má prática e a correlação com a saúde ocupacional do
médico" e durante sua apresentação defendeu a importância de se olhar para
os casos de dependência entre os anestesistas.
Outro palestrante, o
anestesiologista e professor da Universidade Federal de Pelotas, Gastão Neto, informou que apesar de a especialidade
representar 5% do total de médicos, os anestesistas são 15% entre àqueles que
são dependentes químicos.
Gastão
foi o palestrante do tema "Uma visão política sobre a dependência química
do médico anestesiologista: possíveis intervenções", em que apresentou
dados de pesquisas internacionais sobre a prevalência da dependência química
entre os médicos e as possibilidades de recuperação.
Durante
o Simpósio, foram debatidas as causas
que levam à prevalência do problema entre os anestesistas e o que as entidades
médicas podem fazer diante do problema.
Entre as causas, estão o nível de estresse a que é submetida a
especialidade, o conhecimento sobre os efeitos e a facilidade de acesso às
drogas.
"Infelizmente,
o conhecimento pode ser um complicador no tratamento da dependência química
entre os anestesiologistas, pois eles sabem muito bem qual o efeito das
drogas", afirmou o psiquiatra
Ronaldo Laranjeira, professor titular
da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e diretor do Instituto Nacional
de Ciências e Tecnologia para Políticas Públicas.
Ele explicou como é o processo de tratamento da
dependência química e como ele é aplicado entre os médicos que recebem o
acompanhamento do Cremesp.
"Pela
minha experiência clínica, é possível assegurar que a aderência ao tratamento
entre os médicos é maior do que em outras categorias, pois nós não sabemos
fazer outra coisa", opinou.
"Daí
porque é importante que o CFM passe a apoiar quem sofre desse problema, pois
quando é o próprio conselho de classe que faz o alerta, a adesão fica mais
fácil", defendeu.[...]
[...]
No caso dos anestesiologistas,
estudos mostram que dificilmente os médicos conseguem se curar da dependência
caso se mantenham na especialidade. "Eu, particularmente, aconselho meus
pacientes a procurarem outra especialidade, pois as facilidades são maiores se
eles continuarem no mesmo ambiente", defendeu Palhares.
Se
o problema da dependência é aparentemente individual, a solução passa pelo
coletivo.
"Em
São Paulo, o Cremesp já pediu o afastamento de um colega.
Foi
a forma que encontramos para proteger a ele e a sociedade", contou
Callegari.
Além
disso, o CFM pode pedir a interdição do
profissional.
O
conselheiro do CFM entende, no entanto,
que não basta prestar o apoio psicológico, é preciso um sustentáculo
financeiro. "Temos de ter um fundo de apoio, ou um seguro, para esses
profissionais, pois mudar de especialidade não é um processo fácil",
argumentou.
A última palestra do I
Simpósio
Internacional de Saúde Ocupacional do Anestesiologista, foi do procurador da República Diaulas Costa
Ribeiro, que por muitos anos atuou no Ministério Público do Distrito
Federal e Territórios na Promotoria de Justiça de Defesa da Saúde.
De acordo com Diaulas, de 12% a 15% dos médicos do Distrito
Federal têm problemas com dependência química ou alcóolica.
"Há
uma angústia profissional muito grande, com muitas cobranças e poucas condições
de trabalho, o que pode está na raiz desse problema entre os médicos",
avaliou.
Ele defendeu uma carga horária menor para os médicos,
como uma forma de evitar a dependência.
Grifo nosso
Fonte: CFM
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