quinta-feira, 31 de outubro de 2013

Reino Unido: Médicos podem desistir de salvar doente terminal

Em vigor a partir de 13 de abril de 2010, o novo Código de Ética Médica trouxe avanços importantes no que tange ao respeito ao paciente sobretudo, na sua autonomia em escolher o melhor para si, quando acometido de uma doença grave sem possibilidades de cura.

Situações estas que no universo clínico ocorrem cotidianamente em que outrora, o paciente era obrigado ser submetido e o médico a submeter ao paciente a procedimentos que em nada melhorariam sua condição de saúde.

Neste dia (30/10) a Suprema Corte britânica tomou uma importante decisão que vem a corroborar o artigo 41 do novo Código a saber e, ironicamente, o quadro do paciente piorou em função de uma infecção grave adquirida num hospital cuja medicina e a assepsia são consideras de excelência.



Art. 41. Abreviar a vida do paciente, ainda que a pedido deste ou de seu representante legal.


Parágrafo único. Nos casos de doença incurável e terminal, deve o médico oferecer todos os cuidados paliativos disponíveis sem empreender ações diagnósticas ou terapêuticas inúteis ou obstinadas, levando sempre em consideração a vontade expressa do paciente ou, na sua impossibilidade, a de seu representante legal.


Eis a matéria:

Médicos podem desistir de salvar doente terminal

A Suprema Corte do Reino Unido definiu, nesta quarta-feira (30/10), mais uma questão que envolve o direito de viver e o de morrer.

Os juízes decidiram que os médicos não são obrigados a submeter um paciente em estado terminal a qualquer procedimento só para prolongar a sua vida.

Quando não há chances de cura e nem a perspectiva de uma sobrevivência minimamente decente, manobras de ressuscitação, por exemplo, podem ser abandonadas.

O julgamento não definiu, no entanto, em que momento os tratamentos médicos podem ser deixados.

A corte apenas traçou as diretrizes para a difícil decisão, que deve ficar a cargo da equipe dos hospitais.

O entendimento firmado foi o de que devem ser evitados tratamentos invasivos, que provoquem sofrimento no paciente e não ofereçam nenhuma chance de melhorar a qualidade de vida dele.

A Suprema Corte julgou a apelação da viúva de um homem chamado David James, que morreu em dezembro do ano passado.

James tinha quase 70 anos quando foi internado depois de um longo tratamento contra câncer. No hospital, ele pegou uma infecção grave, adquiriu uma doença pulmonar crônica e seus rins pararam de funcionar.

Em julho, seu sistema neurológico se deteriorou e ele deixou de poder tomar as decisões sobre seu tratamento médico.

Na Inglaterra, uma pessoa não pode exigir determinado tratamento de saúde, mas pode recusar qualquer coisa que lhe for oferecida.

Quando o paciente perde a capacidade de tomar decisões, entra em cena o que é chamado de Corte de Proteção.

Nela, são os juízes os responsáveis por decidir o que é melhor para o paciente. As opiniões da família são levadas em conta, mas não são determinantes.

No drama protagonizado por James, foi o próprio hospital que pediu à Corte de Proteção autorização para evitar manobras de ressuscitação caso o paciente tivesse uma parada cardíaca.

A família do doente era contra a posição do hospital e defendeu até o último minuto que fosse feito tudo para que ele continuasse respirando.

Inicialmente, a Corte de Proteção rejeitou o pedido do hospital para fazer uma declaração de que não o paciente não deveria ser reanimado.

A decisão, no entanto, ressaltou que não deveria ser feito nenhum tratamento que causasse ao paciente muito sofrimento.

O hospital recorreu à Corte de Apelação.

Já em dezembro, diante da piora no estado de saúde de James, os juízes deram razão aos médicos e consideraram que, como não havia chances de ele sobreviver de maneira minimamente decente, manobras de ressuscitação não seriam no seu melhor interesse e deveriam ser evitadas.

Dez dias depois do julgamento, James teve uma parada cardíaca e morreu.

Ainda assim, sua mulher resolveu levar a briga para a Suprema Corte britânica se posicionar em casos futuros.

Os juízes da Suprema Corte deram razão tanto à Corte de Apelação como à Corte de Proteção.

Consideraram que a decisão sobre quando abandonar tratamentos médicos deve levar em conta o bem-estar do paciente e sua qualidade de vida, além de suas crenças e sua fé.

Mas, quando não existe mais nenhuma chance de melhorar a qualidade de vida do doente nem de afastar uma perspectiva eminente de morte, tratamentos invasivos e que provoquem sofrimento devem ser evitados.

Comentário: João Bosco

Grifo nosso

Fonte: Consultor Jurídico / Aline Pinheiro

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