A
oferta no SUS, para adolescentes de 15 a 19 anos, de novos métodos contraceptivos que não dependem de consumo diário e duram
até cinco anos é alvo de um debate que divide o setor.
O pedido para ampliar a
oferta dos LARCs (sigla em inglês para métodos contraceptivos
reversíveis de longa duração) para jovens atendidas na rede pública de saúde foi feito pela Febrasgo (federação
nacional de ginecologistas e obstetras).
Em
dezembro, o Ministério da Saúde abriu uma consulta pública para analisar o
tema. A discussão segue até o dia 2 de fevereiro. A ideia é oferecer duas novas
alternativas mais duradouras para evitar a gravidez em adolescentes de até 19
anos. O primeiro é um implante subcutâneo, colocado no antebraço, que libera
etonogestrel, hormônio que inibe a ovulação.
O
outro é um tipo de DIU (dispositivo intrauterino) que libera pequenas doses
diárias de outro hormônio, o levonorgestrel. Os métodos, que são reversíveis,
têm duração de três e cinco anos. Segundo a ginecologista Marta Finotti, da
Febrasgo, o pedido foi feito devido às altas taxas de gravidez na adolescência
registradas no país.
Em 2014, cerca de uma em
cada dez adolescentes brasileiras de 15 a 19 anos tinha filhos, segundo o IBGE. O índice teve leve queda nos últimos
anos. Foi de 14%, em 2001, para 11%."Os números ainda são
assustadores", diz Finotti, que atribui a queda à evolução dos
contraceptivos. E há ainda outros fatores em jogo. "O início da atividade
sexual é cada vez mais precoce", ressalta.
Aval e Impasses
A questão também é alvo de
forte pressão da indústria farmacêutica,
interessada em distribuir os produtos no país –atualmente, apenas duas empresas
fabricam os dois métodos no Brasil. Órgãos internacionais dão aval à discussão.
No ano passado, os LARCs ganharam apoio
da Academia Americana de Pediatria, que passou a recomendá-los, aliados à
camisinha, como forma de prevenir a gravidez precoce.
No Brasil, os produtos
tiveram um parecer inicial desfavorável à inclusão no SUS em avaliação da
Conitec,
comissão do Ministério da Saúde que avalia a oferta de novos medicamentos e
tecnologias. Relatório do colegiado diz que as evidências apresentadas
"não foram suficientes para comprovar a superioridade em relação às
tecnologias já disponibilizadas".
Atualmente, adolescentes e
mulheres de outras faixas etárias que procuram o SUS podem ter acesso a oito
métodos contraceptivos:
minipílula, pílula combinada, diafragma, pílula do dia seguinte, camisinha
feminina, camisinha masculina, anticoncepcional injetável (mensal e trimestral)
e o DIU de cobre –este último, com duração de até dez anos.
O
gasto com a oferta desses recursos nos últimos quatro anos, de acordo com o
Ministério da Saúde, foi de R$ 160 milhões. Já os dois novos contraceptivos em
discussão têm custo estimado em R$ 105 milhões ao longo de cinco anos.
Para
Finotti, os métodos atuais são mais baratos apenas a curto prazo. "Muitas
adolescentes usam pílula incorretamente", afirma. "Essas meninas se
beneficiariam mais com um implante que é seguro e não depende da constância de
uso."
Uma nova avaliação da Conitec
deve ser realizada no primeiro trimestre deste ano, após análise dos dados da
consulta pública.
Segunda Gravidez
Para
Albertina Duarte Takiuti, coordenadora do Programa do Adolescente da Secretaria
de Saúde do Estado de São Paulo, os métodos teriam uma adesão melhor se fossem
ofertados inicialmente não a todas as mulheres na faixa etária de 15 a 19 anos,
mas a um grupo específico: aquelas que já foram mães e querem prevenir uma
segunda gravidez.
"Em
dois anos, 40% das adolescentes voltam a engravidar", diz. "E aí
perdem o rumo e não vão para a escola." Para Takiuti, mulheres que já
engravidaram uma primeira vez têm maior adesão a métodos como o DIU.
Grifo nosso
Fonte: folhauol.com.br / Natália
Cancian
Imagem: Reprodução
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