Numa
medida extrema e possivelmente inédita
no país, a Justiça do Rio Grande do Sul determinou que uma mulher grávida de 42 semanas fosse submetida a uma cesariana contra a sua
vontade, por considerar que mãe e bebê corriam risco de morte.
O
caso aconteceu anteontem em Torres (193 km de Porto Alegre).
Após
deixar o hospital Nossa Senhora dos Navegantes, contrariando orientação médica,
Adelir Carmem Lemos de Goes, 29, foi
levada de casa por policiais militares e conduzida à unidade, onde deu à luz
uma menina.
A polêmica começou quando a gestante procurou o hospital com
dores lombares e no ventre.
A médica Andreia Castro examinou a mulher e
determinou que ela fosse submetida a uma
cesariana, alegando que o bebê estava sentado -o que poderia asfixiá-lo
durante um parto normal.
Além disso, a médica também argumentou que Adelir
já havia feito duas cesarianas anteriormente e que, por essa razão, seu útero
poderia se romper no procedimento.
Decidida
a fazer o parto normal, a gestante se
recusou a ficar no hospital.
Alegou
que ainda não estava em estágio avançado do trabalho de parto e, após assinar um termo de responsabilidade,
voltou para casa.
A médica, então, decidiu
procurar o Ministério Público,
que acionou a Justiça.
A
juíza Liniane Maria Mog da Silva aceitou os argumentos médicos e determinou que
a gestante fosse levada para o hospital, com o apoio da polícia, caso fosse
necessário.
Stephany
Hendz, que é doula (mulher que
acompanha e dá suporte a grávidas) de Adelir,
diz que durante os exames preliminares foi constatado que o bebê estava
saudável e com batimentos cardíacos dentro dos padrões.
"A
ideia era ir mais tarde ao hospital para que ela realmente conseguisse ter um
parto normal como queria nas outras gestações. Nas outras vezes, ela foi
impedida pois a gestação passou de 40 semanas", afirmou Stephany. Uma
gestação completa dura entre 37 a 42 semanas.
"No
momento em que ela foi examinada, falaram também que o bebê estava pélvico
[sentado]. Fizeram um ultrassom, mas não mostraram que o bebê estava realmente
sentado", disse a doula.
O
pai da criança, o técnico de manutenção Emerson Guimarães, 29, diz que nenhum
exame mostrou o bebê virado. "Acho que inventaram só para obrigá-la a ter
a cesárea", diz Guimarães.
Stephany
conta que a gestante parou de fazer o acompanhamento pré-natal (com 39 semanas
de gestação) no posto de saúde com medo de ser induzida a uma cesárea.
O
marido afirma que ela estava em trabalho de parto em casa, por volta das 1h30
de ontem, quando um oficial de Justiça bateu na porta da casa da família com a
presença de policiais e uma ambulância determinando que ela fosse levada ao
hospital.
"Ficamos sem ter como
fugir, infelizmente foi uma solução forçada", lamenta o marido de Adelir.
Em nota, o hospital nega que
tenha induzido a cesariana. Diz que o acionamento da Promotoria se deu porque
mãe e filha corriam "risco iminente de morte".
O
bebê nasceu às 3h10 de ontem, com 3,65 kg e 49 centímetros.
A
mãe e a recém-nascida devem ter alta hoje.
Grifo nosso
Título original: Justiça do RS manda grávida fazer
cesariana contra sua vontade
Fonte: Folhaonline / Giovanna Balogh
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Imagem: Adelir de Goes, 29 /
Reprodução/Facebook
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