segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

“Escolas médicas são criadas indiscriminadamente no Brasil”

Artigo fala sobre o imediatismo da atuação governamental no que tange à implementação de uma saúde de qualidade

Imediatismo. Essa é tônica do discurso e da atuação governamental no que tange à implementação de uma saúde de qualidade no Brasil. O planejamento reside ao largo das decisões da esfera federal em que, somente um dado interessa aos gestores. O número de médicos/1.000hab.

Portaria de nº 731/2013, publicada dia 22 de dezembro de 2013, ao apagar das luzes de 2013 no Diário Oficial da União, com a rubrica do Secretário de Regulação e Supervisão da Educação Superior do Ministério da Educação, Jorge Rodrigo Araújo Messi autoriza a criação de escolas de medicina num total de 49 em 15 estados brasileiros.

No dia 12 de dezembro de 2013, o MEC já havia publicado acerca da criação de 560 novas vagas de graduação em medicina em sete universidades federais. Entretanto, sete meses antes, em maio de 2013, o ministro economista da Educação Aloísio Mercadante afirmara categoricamente que “o balcão estava fechado” – se referindo a criação de novas vagas e/ou universidades – fato que, o Brasil contava nesta data com 200 escolas de medicina conforme indicava o site Escolas Médicas.

Alguns dias do “fechamento do balcão”, o ministério autorizou a criação de mais duas escolas médicas na região do ABC paulista. Atualmente o Brasil conta com 213 escolas médicas para uma população de 200 milhões de habitantes o que equivale à população/escola em 0,94mil/escola.

Os EUA conta com 141 escolas médicas numa proporção de população/escola em 2.25 mil/escola, a China com 150 escolas cuja proporção de população/escola é de 9.02 mil/escola, a Alemanha com 86 milhões de habitantes possui 36 escolas e a proporção população/escola soma 2.27 mil/escola.

A realidade brasileira demonstra a chamada centralização de profissionais médicos nos grandes centros e existe um número razoável de escolas de medicina, isso, se comparado às proporções dos países desenvolvidos.

O papel dos gestores envolvidos é a preponderância na melhora de condições de êxodo do profissional médico.
Importante ressaltar que, se não houve um planejamento logístico quando da implantação das escolas existentes, seria o caso de enxergar os erros pretéritos, e estabelecer critérios técnicos científicos de criação de novas escolas se necessário for.

Há de se pontuar que, a abertura de escolas de medicina não corresponde em absoluto à abertura de uma escola de pedagogia ou filosofia por exemplo.

Acompanha a escola de medicina além de um excelente corpo docente, laboratórios, ambulatórios, biblioteca, centro de pesquisa informatizado e sobretudo, um hospital. Não se concebe uma escola medicina sem Hospital escola. Hospital carece de equipamentos de alta tecnologia, insumos, corpo clínico, corpo de apoio que soma desde o auxiliar de limpeza ao diretor administrativo. Garanhuns (PE) que o diga.

Segundo a Pesquisa Demográfica Médica no Brasil / 2013 divulgada pelo CFM – Conselho Federal de Medicina, atualmente o Brasil conta com 2,0 médico/1.000hab, algo em torno de 400 mil profissionais divididos nas regiões Norte com 1,01 médico/1.000hab, Nordeste 1,23 médico/1.000hab, Sul 2,09 médico/1.000hab, Sudeste 2,67 médico/1.000/hab, Centro Oeste 2,50 médico/1.000hab. (nesse particular, somente o DF detém 4,09 médico/1.000hab).

Partindo do princípio que a Organização Mundial de Saúde (OMS) estabelece como razoável a relação 1,0 médico/1.000hab, o Brasil situa-se numa margem privilegiada porém, deve se ater que esse dado estatístico tem peso preponderante nos países diminutos da Europa, região de alto grau de densidade populacional e centralização de seus indivíduos são uma realidade premente.

Não há de se comparar a densidade demográfica da região Norte com a região Sudeste. Ademais, pode-se afirmar com propriedade que uma relação de 2,8 médico/1.000hab na cidade de São Paulo são insuficientes entretanto, esse dado globalizado da OMS não considera essa particularidade ao se aplicar a mesma relação ao município de Rio Branco/AC. Ainda assim, sobrariam médicos.

É recorrente prefeituras de diversos municípios do país, publicarem concurso para profissional médico oferecendo para uma carga horário de 40 horas semanais salário de R$ 4.000,00. Afirmam não deterem arrecadação suficiente para melhor remunerar e assim, em outro extremo, importam médicos do exterior afrontando a legislação trabalhista brasileira e, por consequência, esses municípios os recebem e o governo federal colhe os louros da carência.

Ora, podendo contratar ignorando a legislação trabalhista brasileira que, diga-se de passagem, é um relevante fator de onerosidade, que então promulgue uma lei federal autorizando aos municípios contratarem da mesma maneira.

Eis o cenário. Médicos contratados sem direitos trabalhistas da CLT, sem inscrição nos Conselhos Regionais de Medicina.


Escolas de medicina sem laboratórios, sem corpo clínico de qualidade, sem Hospitais escola. E assim, assiste-se de camarote a política de ensino médico se perpetuando como política no ensino médico.


Autor: João Bosco

Fonte: Texto pulicado em 29/01/2014 no blog Saúde Web 


Curta e partilhe no Facebook

Sem comentários:

Enviar um comentário