Uma portaria do
Ministério da Saúde que regulamenta
a oferta de aconselhamento genético por meio do SUS (Sistema Único de Saúde) está recebendo críticas de geneticistas não
médicos, que ficam impedidos de oferecer o serviço a partir de agora.
Pacientes que querem entender riscos dos males hereditários, suas
consequências e as opções para lidar com situações que eles impõem precisam
recorrer a um geneticista formado em medicina.
As críticas
ganharam força há uma semana quando a
bióloga Mayana Zatz, da USP (Universidade de São Paulo) –uma das mais
conhecidas especialistas do país em genética humana–, acusou o ministério de
estrangular a demanda por serviços de saúde na área de genética.
"Existem
mais de 6 milhões de pessoas com doença genética no Brasil e apenas 160 médicos
geneticistas", diz a cientista. "Não é difícil prever que, com essa
limitação, a grande maioria das famílias com doenças genéticas não terá acesso
ao aconselhamento genético."
Segundo Zatz, a portaria exclui "milhares de cientistas com
doutorado em genética humana" que já vêm oferecendo o serviço.
Sérgio Pena, médico geneticista da UFMG, diz que não vê problema
em outros profissionais de saúde fazerem aconselhamento, desde que diagnósticos
continuem sendo prerrogativa de médicos.
O governo afirma que a portaria não restringe, mas amplia a
atenção a doenças raras, pois institui o serviço como procedimento bancado pelo
SUS.
Até então, segundo José Eduardo Fogolin, coordenador da área no
ministério, o aconselhamento genético era feito só em centros universitários,
tendo a pesquisa como finalidade.
O ministério prevê um segundo momento em que outros profissionais
possam realizar o procedimento. Fogolin nega que o número de médicos
geneticistas seja um gargalo para o aconselhamento e diz que o SUS pode vir a
oferecer o serviço em todas as regiões do país.
SETOR PRIVADO
Uma outra norma para
serviços de genética em saúde atrai
reclamações de médicos.
Aqueles que possuem
registro no CRM, mas não são especialistas em genética, não poderão mais
assinar pedidos de exame de DNA.
A ANS (Agência Nacional
de Saúde) determinou que isso passa
a ser exclusividade do médico geneticista.
Planos de saúde podem recusar, por exemplo, um pedido de exame de
síndrome de Huntington feito por um neurologista, ainda que a doença seja um
mal do sistema nervoso.
"Não sei se as seguradoras querem evitar bancar esses exames,
que são muito caros", diz Thomaz Gollop, geneticista-obstetra da Faculdade
de Medicina de Jundiaí. Ele vê risco de "elitização" do serviço sob a
nova regra.
OUTRO LADO
A presidente da
SBGM (Sociedade Brasileira de Genética Médica), entidade consultada
pelo governo para a elaboração das novas regras do setor, nega que a motivação
para as mudanças tenha sido o corporativismo de médicos dessa especialidade.
"Vemos com
muito bons olhos os outros profissionais, desde que tenham o treinamento
adequado", diz Lavinia Faccini, médica geneticista da Universidade Federal
do Rio Grande do Sul.
"O que a SBGM não concorda é que, por exemplo,
biólogos que têm mestrado ou doutorado em genética sejam automaticamente
considerados capacitados para fazer aconselhamento genético."
Quanto à norma da ANS que restringe exames, Faccini diz que é um
meio de evitar pedidos "desnecessários".
Para ela, o médico
geneticista pode atuar só como consultor nesses casos, sem precisar examinar
pacientes. "Isso tem funcionado bem em planos de saúde que têm um
geneticista encarregado de ver os pedidos que vêm dos médicos e dizer se são
adequados ou não", diz.
Grifo nosso
Fonte: Folha de São Paulo / Johanna Nublat / Rafael Garcia
Imagem: Alex Argozino/Editoria de Arte / Folhapress
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Isso é um absurdo com os profissionais e com a população que necessita de aconselhamento. Em um país em que a Copa é mais prioritária do que a Saúde e Educação. O que pode ser feito para revogar essa portaria?
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