quarta-feira, 27 de novembro de 2013

Audiência do STF sobre o Mais Médicos confirma divergência entre expositores

A audiência foi convocada pelo ministro Marco Aurélio, relator no julgamento de duas Ações  Diretas de Inconstitucionalidade (ADIs) ajuizadas pela Associação Médica Brasileira (AMB) e pela Confederação Nacional dos Trabalhadores Universitários Regulamentados (CNTU) contra a contratação de médicos estrangeiros não submetidos a exames para comprovar estarem aptos a trabalhar no Brasil.

As opiniões, críticas e sugestões colhidas durante a audiência vão ser levadas em conta durante o julgamento que, segundo o ministro, só deve ocorrer em 2014.

No total, foram ouvidos 24 expositores, entre representantes de entidades do governo, do Ministério Público e da sociedade civil.

Fazendo uma análise estatística, o ministro interino de Assuntos Estratégicos e presidente do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), Marcelo Côrtes Neri, disse que pesquisas do órgão revelam a maior concentração de médicos nas regiões Sul e Sudeste do país.

“Os médicos estão onde está o maior poder aquisitivo, não onde estão as pessoas pobres. Os dados mostram isso com clareza”, disse.

Alguns posicionamentos a favor

Para o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, o Mais Médicos não vai resolver todos os problemas de saúde pública no Brasil, mas é um passo importante para fortalecer o sistema e resgatar os princípios do Sistema Único de Saúde.[...]

 [...] “Quem fala isso [que o programa é eleitoreiro] é que não tem a sensibilidade de perceber que faltam médicos no nosso país. É muito fácil alguém que tem acesso a médicos criticar um programa para quem não tem”, disse Padilha.

O advogado-geral da União, Luís Inácio Lucena Adams, afirmou que estão dando muita ênfase à vinda de médicos estrangeiros, mas o programa Mais Médicos é muito mais amplo, tendo três grandes diretrizes.

A primeira é a criação de mais vagas para estudantes de medicina no país, com o objetivo de aumentar o número de médicos por habitante.

A segunda é o incremento do investimento de saúde.

Por fim, o envio de médicos para regiões carentes para fazer o atendimento básico de saúde.

A diretora da organização não governamental (ONG) Conectas, Lúcia Nader, defendeu a contratação de médicos estrangeiros para atender à população de regiões carentes e criticou a partidarização do debate.


Lúcia lembrou que outros países, como a Grã-Bretanha e os Estados Unidos, também recorrem à prática. No Brasil, segundo ela, menos de 0.6% dos 388 mil médicos registrados, ou seja, 2.399, são estrangeiros.

Alguns posicionamentos contra

Já o representante do Ministério Público do Trabalho, Sebastião Caixeta, fez diversas objeções ao programa do ponto de vista das relações de trabalho.

Para ele, o Mais Médicos é um programa “nobre e necessário” para suprir a necessidade de atenção básica de saúde, mas "não pode comprometer outros valores constitucionais”.

Segundo relatório parcial divulgado em outubro passado pelo MPT, com base no inquérito civil instaurado para investigar a ocorrência de possíveis problemas e irregularidades no programa, o que se tem de fato é uma relação de trabalho, mascarada por um programa de aperfeiçoamento, que seria uma pós-graduação, com foco no ensino, na pesquisa e na extensão.

Para o presidente do Conselho Federal de Medicina, Roberto Luiz d’Ávila, o programa tem caráter eleitoreiro e não resolve o problema da falta de médicos no país, em especial nas regiões Norte e Nordeste, e criticou a contratação dos profissionais estrangeiros sem a revalidação do diploma.

“Os profissionais do Mais Médicos, que não consideramos médicos porque não reconhecemos as suas competências, não são aprovados no Revalida.

Já surgiram denúncias de prescrição errada e encaminhamentos equivocados.

Portanto, o que estamos defendendo não é nada de corporativismo, mas a proteção da sociedade brasileira contra médicos que não sabemos se estão capacitados a atender a nossa gente”, argumentou d’Ávila.

Já o representante da Federação Nacional dos Médicos (Fenam) e da CNTU, Geraldo Ferreira Filho classificou o Mais Médicos como um “pacotaço que caiu na cabeça da sociedade brasileira e da categoria.

Para Ferreira, o programa pode levar o país ao “grau máximo” de precarização do trabalho médico.

Ferreira destacou que há tempos a CNTU propõe que seja criada uma carreira médica nos moldes da existente no Poder Judiciário, com ascensão profissional e piso salarial adequados.

Ferreira considera que o governo federal optou por contratos temporários de trabalho como forma de resolver um problema de mais de duas décadas.

Na mesma linha, a presidente da Associação Brasileira de Educação Médica (Abem), Jadete Barbosa Lampert, destacou que o programa proporcionou um bem-vindo debate sobre o modelo de medicina no Brasil, mas que não deixa de apresentar riscos à qualidade dos serviços prestados à população.

A Abem entende que a MP 621 foi produzida sem a participação das entidades de classe que poderiam contribuir para qualificar a iniciativa.

Concluída nesta terça-feira (26), as informações colhidas na audiência pública vão subsidiar o julgamento das ADIs.

Os principais questionamentos nas ações dizem respeito à dispensa da exigência de revalidação dos diplomas dos médicos formados em instituições estrangeiras e as condições trabalhistas da contratação dos profissionais, por meio de bolsas.

Ao fazer um balanço dos dois dias de audiência, o ministro afirmou que as exposições foram muito profícuas, substanciosas e com visões diversificadas.

O ministro acrescentou que as exposições serão degravadas e anexadas ao processo.

Ele acrescentou que as entidades e os expositores também poderão apresentar memoriais para serem juntados ao processo e apresentados aos integrantes do STF.

“Que prevaleça a Carta da República, que, por sinal, precisa ser um pouco mais amada pelos brasileiros”, disse o ministro, desejando que tudo ocorra em harmonia com os anseios da sociedade.

Adaptação: João Bosco

Grifo nosso

Fonte:  CREMESP / Agência Brasil / STF

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