quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

Conselho aprova nova técnica para tratar próstata aumentada

Procedimento menos invasivo foi desenvolvido no HC, onde hoje é feito em forma de pesquisa
               
Um parecer aprovado pelo CFM (Conselho Federal de Medicina) abre caminho para a utilização no Brasil de uma técnica menos invasiva para tratar o aumento benigno da próstata (hiperplasia), problema que atinge cerca de 50% dos homens com mais de 50 anos.

Trata-se da embolização das artérias da próstata, que pode servir como alternativa a medicamentos e a outros procedimentos cirúrgicos.

A técnica foi desenvolvida por médicos do Hospital das Clínicas de São Paulo, onde vem sendo usada na forma de pesquisa, e já está sob avaliação do governo americano.

Consiste no uso de um pequeno tubo, que entra pela virilha e, guiado por um aparelho que emite raio X, percorre vasos sanguíneos até a próstata.

Lá, uma substância é liberada a fim de obstruir parte do fluxo sanguíneo que alimenta a próstata, favorecendo a redução de seu tamanho e, assim, reduzindo a pressão do órgão sobre a uretra, diz Francisco Carnevale, chefe do serviço de radiologia intervencionista do HC.

Nela é usada anestesia local, e o paciente pode deixar o hospital no mesmo dia.

Cacilda Pedrosa, relatora do parecer do CFM, diz que ainda será preciso que o conselho aprove uma resolução sobre o tema para que o procedimento seja liberado em definitivo, o que deve ocorrer entre janeiro e fevereiro, diz.

Segundo Carnevale, o procedimento da embolização já é usado no país, mas para outras finalidades.

Por exemplo, para atacar miomas uterinos e tumores no fígado.

Alberto Azoubel Antunes, urologista que chefia o serviço de próstata do Hospital das Clínicas, explica que a nova técnica beneficia sobretudo pacientes com obstrução leve --a maior parte dos casos--, aliviando sintomas como ardor e urgência para urinar e jato fraco de urina.

Miguel Srougi, professor titular de urologia da USP, diz que o procedimento foi utilizado em cerca de 60 pacientes nessa fase de pesquisa.

Mais de 50 deles voltaram a urinar normalmente, sendo que não houve complicações em nenhum dos casos.

Segundo Srougi, a técnica é segura e apresentou resultados sólidos, embora haja algumas críticas no meio médico sobre o procedimento.

``Se [a técnica] pegar, a cirurgia mais realizada em próstata vai deixar de ser feita num grupo grande de pacientes``, afirma o médico.

PARECER

Após cerca de quatro anos utilizando a técnica no Brasil dentro de protocolos de pesquisa, o grupo solicitou ao CFM o reconhecimento da nova técnica.

Em parecer aprovado no fim de 2013, o conselho reconheceu os benefícios da embolização, chancelando seu uso desde que cumpridos alguns requisitos.

Por exemplo, a consulta a um urologista e a realização da técnica por médico formado em radiologia intervencionista credenciado e capacitado para o procedimento.

O parecer também vincula a liberação da técnica ao acompanhamento dos resultados, pelo CFM, por até cinco anos.

Carnevale explica que a proposta é criar centros de capacitação de profissionais para a utilização da técnica em outros hospitais do país, em conjunto com sociedades da área.

Entretanto, o método esbarra em entraves e é pouco acessível na rede pública.         

Há muitos entraves para tornar o procedimento mais abrangente, como a desconfiança de muitos médicos em relação à eficácia e à efetividade.  
         
Na última década, houve um grande avanço nas embolizações, especialmente com o desenvolvimento de microcateteres que passaram a permitir cirurgias minimamente invasivas em regiões como o cérebro e a próstata.

A técnica é utilizada hoje no tratamento de vários tipos de tumores, como o de fígado, e em situações de emergência que exigem o estancamento de hemorragias, como divertículos e traumas.

Se antes um acidentado chegava ao hospital com hemorragia no baço e tinha o órgão retirado, hoje é possível preservá-lo usando a embolização.

Os planos de saúde cobrem o tratamento para várias indicações médicas.

Mas há muitos entraves para tornar o procedimento mais abrangente, como a desconfiança de muitos médicos em relação à eficácia e à efetividade a longo prazo.

Há também a própria limitação do procedimento, que serve para alguns casos, mas não para outros. 

No SUS, o problema é o acesso.

A embolização só está disponível em hospitais-escolas, mesmo assim para uma minoria de casos.

É ainda um tratamento caro, feito por meio de equipamento que custa R$ 1 milhão, em média. Isso sem contar as microesferas ou molinhas (no caso de aneurismas) usadas em cada procedimento.

A questão é que o conceito de economia da saúde é ainda pouco usado pelos gestores do sistema público.

A longo prazo, as cirurgias minimamente invasivas acabam compensando o investimento inicial com a nova tecnologia porque vão evitar internações, anestesias e maior risco de complicações.

Muitas mulheres pobres ainda têm o útero retirado por causa dos miomas, que hoje poderiam ser tratados com embolização ou outras técnicas menos invasivas.

E correm mais riscos de infecções e morte.

Será que dados como esse entram na conta matemática dos gestores?


Grifo nosso

Fonte: Folha de São Paulo / Johanna Nublat / Cláudia Collucci

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