segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

Pediatras criticam projeto de lei do `teste da linguinha`

Texto em tramitação no Congresso torna obrigatória a realização de exame físico que detecta `língua presa`.

                               
A obrigatoriedade de um teste em recém-nascidos para detectar uma alteração na membrana que conecta a língua ao assoalho da boca está colocando em lados opostos pediatras e fonoaudiólogos.

Um projeto de lei que exige a realização do ``teste da linguinha`` por profissionais de saúde em todas as maternidades no país já passou na Câmara e está no Senado.

Irene Marchesan, presidente da Sociedade Brasileira de Fonoaudiologia, afirma que a entidade tomou essa iniciativa porque é comum o atendimento de crianças mais velhas com problemas de fala por falta de diagnóstico quando eram bebês.

``Problemas que começam pequenos como esse acabam passando despercebidos pelos médicos.``

Outra vantagem de realizar o teste no recém-nascido, segundo ela, é evitar dificuldades de amamentação que podem ser causadas pela falta de movimentos da língua.

Quando o problema da língua presa é detectado, um corte simples da membrana resolve o problema, afirma Marchesan.

O projeto de lei para tornar o teste da linguinha obrigatório não prevê a exigência de realização desse corte, mas o procedimento já é feito no SUS.

``Se o corte é feito depois que a criança já não fala bem, a fala nunca vai ficar perfeita``, diz Marchesan.

Mas a Sociedade de Pediatria de São Paulo é contra a aprovação da lei.

Um parecer da entidade afirma que o exame da cavidade oral já é realizado rotineiramente pelos pediatras e que a lei criaria uma despesa desnecessária -- o que os fonoaudiólogos negam, já que o projeto não prevê que um especialista realize o teste.

Ainda segundo a entidade, raramente a alteração no frênulo (membrana que conecta a língua ao assoalho da boca) causa problemas para a amamentação, e a correção pode ser feita mais tarde, não na maternidade.

Eduardo Vaz, presidente da Sociedade Brasileira de Pediatria --que endossou o parecer da entidade paulista--, diz que tornar o teste obrigatório pode levar a cirurgias desnecessárias de corte da membrana.

Mário Roberto Hirschheimer, presidente da Sociedade de Pediatria de São Paulo, cita estudos americanos que dizem que só 12% dos casos diagnosticados realmente precisam do corte.

Segundo ele, outros testes que já são rotina em recém-nascidos, como o do pezinho, são exigidos porque, sem o diagnóstico e o tratamento precoces, há consequências imediatas para a criança.


Para Marchesan, da sociedade de fonoaudiologia, os médicos só pensam assim porque não precisam lidar, anos depois, com problemas de fala irreversíveis apresentados por crianças e adultos.

Para médicos, outros exames precisam de lei    
         
Segundo presidente de Sociedade Médica, testes como o do coraçãozinho e o do olhinho, precisam mais de uma lei federal do que o da linguinha.
     
O presidente da Sociedade Brasileira de Pediatria, Eduardo Vaz, afirma que outros testes importantes realizados nos recém-nascidos, como o do coraçãozinho e o do olhinho, precisam mais de uma lei federal do que o da linguinha.

O chamado teste do coraçãozinho mede a oxigenação do sangue do bebê.

Uma baixa saturação de oxigênio indica possíveis problemas cardíacos congênitos.

``Cerca de 3% das crianças nascem com uma cardiopatia congênita, sendo que 10% delas, cerca de 9.000 bebês por ano no Brasil, têm um problema grave. Uma lei federal garantiria a presença do aparelho necessário para o teste em todos os lugares.``

Por enquanto, esse exame é previsto em leis estaduais e municipais no país.

O teste do olhinho, que também não tem lei federal, detecta problemas na visão que podem ser causados por renitoblastoma (câncer nas células da retina) e catarata, entre outras doenças.

Já são obrigatórios os testes do pezinho (um rastreamento de doenças congênitas assintomáticas) e o da orelhinha, que detecta surdez.

Grifo nosso

Fonte: Folha de S.Paulo / Débora Mismetti

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