Texto
em tramitação no Congresso torna obrigatória a realização de exame físico que
detecta `língua presa`.
A
obrigatoriedade de um teste em recém-nascidos para detectar uma alteração na
membrana que conecta a língua ao assoalho da boca está colocando em lados opostos pediatras e fonoaudiólogos.
Um
projeto de lei que exige a realização do ``teste da linguinha`` por
profissionais de saúde em todas as maternidades no país já passou na Câmara e
está no Senado.
Irene
Marchesan, presidente da Sociedade
Brasileira de Fonoaudiologia, afirma que a entidade tomou essa iniciativa
porque é comum o atendimento de crianças mais velhas com problemas de fala por
falta de diagnóstico quando eram bebês.
``Problemas
que começam pequenos como esse acabam passando despercebidos pelos médicos.``
Outra vantagem de realizar o teste no recém-nascido,
segundo ela, é evitar dificuldades de amamentação que podem ser causadas pela
falta de movimentos da língua.
Quando
o problema da língua presa é detectado, um corte simples da membrana resolve o
problema, afirma Marchesan.
O
projeto de lei para tornar o teste da linguinha obrigatório não prevê a
exigência de realização desse corte, mas o procedimento já é feito no SUS.
``Se
o corte é feito depois que a criança já não fala bem, a fala nunca vai ficar
perfeita``, diz Marchesan.
Mas
a Sociedade de Pediatria de São Paulo é
contra a aprovação da lei.
Um
parecer da entidade afirma que o exame
da cavidade oral já é realizado rotineiramente pelos pediatras e que a lei
criaria uma despesa desnecessária -- o que os fonoaudiólogos negam, já que
o projeto não prevê que um especialista realize o teste.
Ainda segundo a entidade, raramente a alteração no frênulo
(membrana que conecta a língua ao assoalho da boca) causa problemas para a
amamentação, e a correção pode ser feita mais tarde, não na maternidade.
Eduardo
Vaz, presidente da Sociedade Brasileira de
Pediatria --que endossou o parecer da entidade paulista--, diz que tornar o
teste obrigatório pode levar a cirurgias desnecessárias de corte da membrana.
Mário
Roberto Hirschheimer, presidente da Sociedade de Pediatria de São Paulo, cita
estudos americanos que dizem que só 12% dos casos diagnosticados realmente
precisam do corte.
Segundo
ele, outros testes que já são rotina em recém-nascidos, como o do pezinho, são
exigidos porque, sem o diagnóstico e o tratamento precoces, há consequências
imediatas para a criança.
Para
Marchesan, da sociedade de fonoaudiologia, os médicos só pensam assim porque
não precisam lidar, anos depois, com problemas de fala irreversíveis
apresentados por crianças e adultos.
Para médicos, outros exames
precisam de lei
Segundo
presidente de Sociedade Médica, testes como o do coraçãozinho e o do olhinho,
precisam mais de uma lei federal do que o da linguinha.
O
presidente da Sociedade Brasileira de Pediatria, Eduardo Vaz, afirma que outros
testes importantes realizados nos recém-nascidos, como o do coraçãozinho e o do
olhinho, precisam mais de uma lei federal do que o da linguinha.
O
chamado teste do coraçãozinho mede a oxigenação do sangue do bebê.
Uma baixa
saturação de oxigênio indica possíveis problemas cardíacos congênitos.
``Cerca
de 3% das crianças nascem com uma cardiopatia congênita, sendo que 10% delas,
cerca de 9.000 bebês por ano no Brasil, têm um problema grave. Uma lei federal
garantiria a presença do aparelho necessário para o teste em todos os
lugares.``
Por
enquanto, esse exame é previsto em leis estaduais e municipais no país.
O
teste do olhinho, que também não tem lei federal, detecta problemas na visão
que podem ser causados por renitoblastoma (câncer nas células da retina) e
catarata, entre outras doenças.
Já
são obrigatórios os testes do pezinho (um rastreamento de doenças congênitas
assintomáticas) e o da orelhinha, que detecta surdez.
Grifo nosso
Fonte: Folha de S.Paulo / Débora
Mismetti
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