Em
pelo menos um ponto a presidente Dilma Rousseff não seguiu as recomendações de
seu cardiologista: a "importação" de médicos estrangeiros para o
Brasil.
Médico
de Dilma e do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o cardiologista Roberto
Kalil Filho se opõe à contratação de estrangeiros para atendimento em hospitais no
interior do Brasil.
"Sou
terminantemente contra", diz Kalil.
Segundo
ele, o maior problema da transferência de médicos para regiões distantes está
na falta de condições de trabalho. Em alguns casos, afirma, o profissional
"não tem nem acomodação".
"Não
adianta jogar os médicos [num hospital] se não houver estrutura. O médico pode ser da China, da Lua.Se
não tiver seringa, se não tiver raio x, ele não vai conseguir atender ao
paciente", diz.
Dilma
oficializou anteontem um programa para fixar médicos no interior do país e nas
periferias.
Na falta de interessados brasileiros, serão abertas vagas para
estrangeiros.
Entidades médicas criticam a proposta, defendendo melhoria de
estrutura na rede e a criação de uma carreira federal do médico.
Embora
reconheça que a priorização de brasileiros atenue suas críticas, Kalil afirma
que existem "outros caminhos para melhorar o atendimento" do SUS.
"Se
os governos não conseguem há 30 anos melhorar as condições de trabalho, não é
mandando médico para o extremo norte que vão resolver o problema",
afirmou.
Segundo
Kalil, a temporariedade da contratação e a garantia de que os estrangeiros não
poderão ser transferidos amenizam sua resistência -por não tirar "emprego
do médico brasileiro".
Citando
reportagens que mostram falta de médicos em hospitais bem equipados, Kalil até
reconhece que, em alguns casos, é necessário enviar médicos para lugares onde
exista rede hospitalar.
Mas
acrescenta que esse não é o cenário na maior parte da rede pública.
Kalil
conta já ter manifestado sua contrariedade para o ministro Alexandre Padilha
(Saúde).
A Folha apurou que ele chegou a participar de pelo menos uma reunião
com a própria presidente Dilma para discussão do modelo.
Seu
papel, segundo integrantes do governo, foi estabelecer canal de interlocução
com representantes médicos contrários ao programa.
Ao
longo da negociação, o governo admitiu alterações no projeto, como a regra que
prioriza a opção por médicos brasileiros. Essas mudanças, no entanto, não
contemplaram as entidades médicas.
Kalil
é doutor e professor livre-docente pela USP com especialização nos EUA.
Ocupa
atualmente a direção do centro de cardiologia do Hospital Sírio-Libanês. Eles não quis comentar a exigência para que
alunos de medicina trabalhem dois anos no SUS.
Grifo nosso
Fonte: Folhaonline / Catia Seabra / Natuza Nery
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