Não
é por ser natural que um produto pode ser considerado seguro, bem como o fato
de ser sintético não o condena a ser um perigo mortal.
Esteve
em vigor uma consulta pública
colocada pela ANVISA sobre o uso de fitoterápicos de conhecimento e aplicação
já tradicionais.
Vejo com bons olhos essa atitude, pois reflete o anseio não só
das empresas farmacêuticas bem como da população em geral, que terá uma opção
de tratamento ou alívio de sintomas aproveitando aquilo que a população já vem
usando há anos.
As
indústrias farmacêuticas tiveram de tirar muitos produtos do mercado para se
adaptarem às novas regras criadas anos atrás. Entendemos e sabemos que deve
haver regras que direcionem esse mercado em prol do bem estar da população.
Mas,
no meu entender, houve medidas que deixaram a população sem a possibilidade de
usar algo em que seus pais e avós empiricamente confiavam e do qual já
conheciam os benefícios e que haviam estudos que davam respaldo científico.
Entendo
e sou a favor de termos e regras que possam nortear o uso desses produtos, deixando de fora fitoterápicos que
tragam substâncias nocivas em sua constituição.
Dentro
desses grupos de substâncias, que
são nocivas, encontram-se os alcaloides pizarrolizidinicos, que
algumas espécies possuem e ao serem usados constantemente podem causar danos renais e hepáticos.
Porém, muitas
plantas que contêm esses grupos de substâncias ou outros grupos químicos
tóxicos estão descritas em diversos trabalhos científicos nacionais e
internacionais.
O que, na verdade precisaria haver é uma normatização para
regrar essas liberações.
Essa
consulta pode gerar protestos de ambos os lados, defensores e contrários a
essas regras. Creio que todos ganharão com isso, sociedade e empresas do ramo;
passaremos a usar mais o nosso potencial da biodiversidade, deixando de
importar somente aquilo que os tecnocratas de plantão acham seguro, colocando
no mercado aqueles que a tradição consagrou e que são respaldados por estudos
que a academia realizou.
Ganharemos muito com isso, pois temos a maior reserva
vegetal do planeta e, no entanto, usamos medicamentos de outros países
inclusive de países vizinhos.
Àqueles
que são extremamente contra, eu sugeriria pensarem inclusive na extensa lista
de livros e publicações na internet que “mostram” as maravilhas terapêuticas que tais espécies têm.
Essas publicações,
ao meu ver, podem ser muito perigosas, pois estimulam o uso de muitas espécies
e algumas sem estudo de toxicidade ou mesmo de efetividade na ação.
Outra
preocupação que tais publicações me trazem é a identificação errônea de espécies. Para termos uma pequena ideia:
há confusões com espécies de estado para estado brasileiro.
Como exemplo, temos
a planta arnica (arnica montana - que não deve ser ingerida por conter alcaloides
pizarrolizidinicos) e, no entanto, temos
pelo menos três plantas usadas como “arnica” no país e que são bem diferentes
da espécie verdadeira.
É
evidente que a identificação botânica macroscópica bem como o uso de marcadores
químicos corretos em conjunto com estudos que comprovem a segurança devem ser
aplicados.
E é claro, também, que os modismos
de plantas ditas “miraculosas” que de tempos em tempos aparecem devem
passar por processos mais complexos de estudos e análises; não só comprovando a
segurança como sua atividade, para que o publico não seja enganado com falácias
intencionais.
O triângulo — segurança, eficácia e qualidade — deve ser preservado.
Produtos
novos precisam de uma investigação maior, não podemos nos basear em modismos
temporários. É a velha história apregoada também pelos nossos antepassados:
“Com saúde não se brinca”. Eles sabiam o que diziam…
Autor: Por Luiz Francisco
Pianowski, pesquisador, presidente do laboratório Kyolab e membro do Conselho
Científico da Amazônia. Farmacêutico com Doutorado em Tecnologia Farmacêutica
(Porto-Portugal).
Fonte: Saúde Web
Grifo nosso
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