A maioria dos medicamentos
novos lançados pela indústria farmacêutica não traz ganho algum para os
tratamentos de saúde. "Apenas 7%
das novas moléculas lançadas no mercado são realmente inovadoras e representam
ganho terapêutico relevante", afirmou, nesta segunda-feira (3/6),
Bruno Cesar Almeida de Abreu, representante da Câmara de Medicamentos (CMED),
em palestra proferida no Seminário
Direito à Saúde: Desafios para a Universalidade, promovido pelo Fórum da Saúde
do Conselho Nacional de Justiça (CNJ).
Segundo Abreu, 93% dos novos produtos não trazem ganho
para o tratamento das doenças nem são inovações. Os dados foram confirmados
por Maria Inez Gadelha, do Departamento de Atenção Especializada da Secretaria
de Atenção à Saúde do Ministério da Saúde, que reclamou que o Poder Judiciário
considera "a prescrição médica incontestável".
Para ela, há
desequilíbrio na relação entre os médicos e o Judiciário: "O poder do
médico está ficando acima do Judiciário".
Maria Inez disse que os
próprios médicos receitam os novos produtos com base em estudos da indústria,
que minimizam os efeitos colaterais do medicamento. "O médico recebe a
informação mais conveniente à indústria", acrescentou Abreu.
Segundo Maria
Inez, mesmo sem ter segurança sobre os
efeitos terapêuticos, as pessoas continuam recorrendo à Justiça para obrigar o
Sistema Único de Saúde (SUS) a fornecer medicamentos novos ainda em fase de
testes.
Decisões judiciais – De 2005 a 2010, o Ministério da Saúde gastou R$ 2,2 bilhões para atender a decisões judiciais.
No estado de São
Paulo, há 25 mil ações judiciais, que custam R$ 700 milhões por ano aos cofres
públicos.
De acordo com Volnei Garrafa, presidente da Rede Latino-Americana e
do Caribe de Bioética da Unesco, houve decisão judicial até mesmo para obrigar
a internação de um portador de diabetes no Instituto Nacional do Câncer (Inca).
Garrafa afirmou que o Brasil
dispõe de um sistema público de saúde, o SUS, mas 70% da capacidade hospitalar
são contratados do setor privado. "O sistema é teoricamente público, mas
na prática é privado", disse.
Hoje, segundo ele, os médicos perderam o controle sobre a área de saúde e quem dita as
regras são a indústria e as operadoras de saúde, que buscam o lucro.
Enquanto
a saúde for determinada por razões econômicas, o médico e o paciente ficarão em
situação desfavorável. "O fato é que se terceirizou a saúde e
tivemos a precarização dos serviços", comentou o conselheiro do CNJ Emmanoel
Campelo.
Ele ressaltou que o médico, devido à baixa remuneração paga pelos
planos de saúde, tem de trabalhar 24 horas por dia para ter um salário
razoável.
Fonte: Agência CNJ de Notícias / Gilson Luiz Euzébio
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