Dois
anos e meio após o governo ter proibido a venda e o uso de três tipos populares
de emagrecedores no país, pessoas com
excesso de peso recorreram a drogas de uso "off label"
–registradas para outras finalidades–, se submeteram a mais procedimentos médicos
e tiveram agravado o grau da obesidade.
É
o que relatam especialistas em nutrologia e endocrinologia ouvidos pela
reportagem, que defendem a volta ao mercado das substâncias femproporex, mazindol e anfepramona (do grupo das
anfetaminas e seus derivados).
Elas
foram banidas em 2011 pela Anvisa
(Agência Nacional de Vigilância Sanitária), para a qual não há provas
científicas de que as substâncias são eficazes, e o risco do uso delas
superaria os benefícios à saúde.
Esse veto, porém, corre o
risco de cair.
Um
projeto na pauta da CCJ (Comissão de
Constituição e Justiça) do Senado
susta os efeitos da resolução da Anvisa que tirou os anfetamínicos de cena.
Se
aprovado na comissão, o texto vai ao plenário da Casa e à promulgação pelo
Congresso.
A
expectativa é que a CCJ avalie o texto em 2 de julho. [...]
[...]
Médicos e pacientes a favor da liberação têm feito gestões junto aos senadores
pela aprovação.
"A
Anvisa tirou produtos eficazes, com trabalhos científicos e há mais de 50 anos
no mercado. Os pacientes sumiram dos consultórios e voltam depois com diabetes
e hipertensos", critica Dimitri Homar, médico integrante da diretoria da
Abran (Associação Brasileira de Nutrologia).
Segundo
Homar, a alternativa foi buscar remédios de uso "off label", que são
mais caros e não são os mais adequados por não terem sido estudados para o
emagrecimento. O topiramato (anticonvulsivante), Victoza (contra o diabetes
tipo 2) e bupropiona (antidepressivo) são algumas das drogas procuradas.
O
endocrinologista João Castro adiciona outro nome à lista das alternativas: a
lisdexanfetamina, usada contra o deficit de atenção.
Castro
afirma que a percepção, no consultório médico, é que aumentou o número de
pessoas com problemas de peso e o grau de obesidade.
Os
médicos rejeitam os resultados de uma pesquisa feita por telefone – e divulgada
pelo Ministério da Saúde– que aponta a estagnação dos percentuais de excesso de
peso e de obesidade em 2013.
Se
aprovado o projeto, a Anvisa ainda poderia editar uma nova resolução, com os
mesmos vetos –algo com potencial político explosivo.
Dirceu
Barbano, diretor-presidente da Anvisa, prefere não entrar na questão política.
"A Anvisa já manifestou sua posição técnica de forma exaustiva (...)
Somente
uma lei pode dispensar a Anvisa da responsabilidade de evitar que existam
medicamentos no mercado que causem mais danos do que a doença que pretendem
tratar", afirma.[...]
Título original: Dois anos
depois de veto, emagrecedores podem retornar
Grifo nosso
Fonte: Folha de São Paulo / Johanna
Nublat
Imagem: Editorial Folhapress
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