Em
vigor há um ano e cinco meses, a lei que
prevê o início do tratamento do câncer em até 60 dias após o diagnóstico no SUS
ainda patina no país.
É
o que mostra pesquisa com 54 secretarias estaduais de Saúde, hospitais e
instituições que tratam câncer, de abril a junho.
O
trabalho foi encomendado pela Femama (Federação Brasileira de Instituições
Filantrópicas de Apoio à Saúde da Mama).
Até
julho, 7.157 pacientes estavam inscritos no Siscan, sistema de registro que
deve reunir o histórico do paciente e o seu tratamento.
Isso
representa pouco mais de 1% do total de casos novos de câncer (576 mil)
registrados no país, segundo estimativas do Inca (Instituto Nacional do
Câncer).
Dos
pacientes inscritos, só 60% iniciaram o
tratamento em até 60 dias após o diagnóstico. [...]
[...]
Do total de entrevistados nas instituições, 64% relatam que não houve repasse extra de recursos para que a lei dos
60 dias fosse implantada de forma eficiente.
Metade
deles também relata alguma falha de funcionamento no Siscan.
Outro
fator limitante é o fato de que só 34% das unidades básicas de saúde possuem
acesso à internet, recurso fundamental para o registro e acompanhamento dos
casos. [...]
[..]
"O grande problema hoje é quem não consegue acesso ao diagnóstico inicial.
É um gargalo cego, não tem como mensurar", afirma o oncologista Paulo
Hoff, diretor do Icesp (Instituto do Câncer do Estado de São Paulo).
Após descobrir um nódulo no
seio em março de 2013, a servidora Rosimeire de Almeida, 47, iniciou o
tratamento apenas sete meses depois. [...]
[...] Com a demora, descobriu em novo exame
que o câncer havia se espalhado para a outra mama. Meses depois, foi a vez da
coluna. "Demorou muito. Tanto que deu metástase."
O
secretário de atenção à saúde do
Ministério da Saúde, Fausto Pereira dos Santos, admite que há falhas e lentidão
na implementação do Siscan. [...]
Para
driblar dificuldades, a pasta afirma investir em treinamento e na expansão da
internet nas unidades de saúde.
Santos
atribui a demora no acesso ao diagnóstico e tratamento a "vazios
assistenciais" no país –regiões sem acesso a centros de quimioterapia e
radioterapia e com baixo número de especialistas.
"A
lei precisa ser cumprida, mas se aplicou sobre uma realidade bastante
heterogênea, em que há falta de estrutura em alguns locais."
Em
nota, o Ministério da Saúde diz que aumentou os recursos para oncologia em 37%
no último ano em relação a 2010. Neste período, o número de quimioterapias e
radioterapias cresceu 21%.
Grifo nosso
Fonte: Folha de São Paulo / Cláudia Collucci / Natália
Cancian
Imagem: Editoria de Arte / Folhapress
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