O
jovem médico depara-se com uma série de questões iminentes da Medicina logo no
início de sua carreira e, apesar de uma rotina estressante que afeta sua saúde
física e mental, muitos tendem a não procurar ajuda.
A
necessidade de lidar com pacientes
difíceis, a privação de sono, os extensos plantões, o convívio diário com o
sofrimento, a dor e a morte, a má remuneração e a alta responsabilidade em
relação a tomadas de decisões, são alguns dos fatores que fazem parte da
rotina do médico e que podem, aos poucos, causar um nível elevado de estresse e
desencadear agravamentos de problemas psíquicos.[...]
[...]
É preciso levar em consideração, também,
a preocupação exagerada com a carreira, muitas vezes fazendo com o que o
profissional deixe sua vida pessoal de lado, adie planos em relação às questões
familiares e procure trabalhar em um ritmo acima de seu limite físico e
psíquico.
Os problemas mais comuns,
que acometem os médicos que
lidam diariamente com situações de alto nível de exigência física e mental, são
a dependência de álcool e/ou de drogas, as doenças afetivas, distúrbios
alimentares (os mais comuns são a anorexia e a bulimia, que acometem
principalmente as médicas), demências e/ou delirium provocados pelo consumo de
álcool e transtornos de personalidade.
Há
ainda as doenças físicas, entre elas os distúrbios cardiocirculatórios (que têm
ligação com o uso excessivo de álcool, nicotina e drogas), neoplasias e doenças
do aparelho respiratório, como indica o estudo feito pelo Cremesp e a Unifesp
em 2012.
Sem limites
Mauro
Aranha, psiquiatra e vice-presidente do Cremesp, faz um alerta sobre a
característica que o médico tem de colocar o exercício profissional como
prioridade, sem dar um limite no tempo em que se dedica à Medicina, muitas
vezes chegando a seu esgotamento total, e a importância que essa limitação tem
na saúde do profissional. “Temos que sensibilizar os médicos sobre o seu presenteísmo (presença física, mas com
produtividade baixa), que muitas vezes ocasiona atritos com pacientes, por
esgotamento.
O
profissional nessa situação tem reduzida a sua disponibilidade cognitiva e
afetiva para acolher o paciente”, comenta. [...]
[...] Ansiedade dos residentes
A
alta competitividade existente entre os médicos residentes é uma das causas dos
quadros de ansiedade.
Principalmente
entre os que convivem com situações de atendimento de emergência e paradas
cardíacas, que precisam explicar um caso delicado ou lidar com pacientes em
fase terminal. Luiz Roberto Milan, psiquiatra do Grupo de Assistência
Psicológica ao Aluno (Grapal) da FMUSP, explica que os altos níveis de
ansiedade e estresse são mais comuns em primeiranistas, e que tal quadro
tende a diminuir ao longo da Residência, quando o residente tem a sensação de
já ser um médico formado, que precisa saber lidar com as situações.
De
acordo com Milan, o médico enfrenta estresse em três áreas: a profissional
(diante de atendimentos difíceis, necessidade de uma gama enorme de
conhecimento para atuar na profissão, medo de errar e falta de perspectiva em
relação à carreira), a situacional (privação de sono, dramas familiares e
amorosos) e a pessoal (saúde e comportamento).
Em
meio a esse ambiente estressante, as
mulheres são as mais afetadas pela equação jornada de trabalho X vida pessoal,
mas, por outro lado, também procuram mais auxílio médico e psicológico.
Estresse do estudante
Há
indícios de que o estresse do médico começa já durante a graduação.
Pesquisa
realizada com 87,5% dos estudantes do primeiro ao sexto ano de Medicina da
Faculdade de Medicina de Marília (Famema), em 2003, apontou que 60,1% das
alunas tinham estresse, enquanto entre os homens, esse número cai para
41,06%.[...]
[...] A tendência elevada de estresse entre as
mulheres deve-se, teoricamente, à propensão a serem mais sensíveis, absorverem
mais os dramas que seus pacientes enfrentam, além da questão da maternidade
tardia, devido à necessidade de dedicação à profissão.
No
geral, em 63,71% dos casos, em ambos os sexos, havia predominância de sintomas
psíquicos – mais intensos a partir do 5° ano, principalmente entre as alunas,
com índices de 90%. Em 24,05%, os sintomas físicos eram mais frequentes e
13,24% apresentavam os dois tipos.[...]
Grifo nosso
Fonte: Jornal do Cremesp nº
315
Imagem: Hupaalfal
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