quarta-feira, 9 de julho de 2014

Jovens médicos não devem ignorar sintomas relacionados às situações estressantes da rotina diária



O jovem médico depara-se com uma série de questões iminentes da Medicina logo no início de sua carreira e, apesar de uma rotina estressante que afeta sua saúde física e mental, muitos tendem a não procurar ajuda.

A necessidade de lidar com pacientes difíceis, a privação de sono, os extensos plantões, o convívio diário com o sofrimento, a dor e a morte, a má remuneração e a alta responsabilidade em relação a tomadas de decisões, são alguns dos fatores que fazem parte da rotina do médico e que podem, aos poucos, causar um nível elevado de estresse e desencadear agravamentos de problemas psíquicos.[...]

[...] É preciso levar em consideração, também, a preocupação exagerada com a carreira, muitas vezes fazendo com o que o profissional deixe sua vida pessoal de lado, adie planos em relação às questões familiares e procure trabalhar em um ritmo acima de seu limite físico e psíquico.

Os problemas mais comuns, que acometem os médicos que lidam diariamente com situações de alto nível de exigência física e mental, são a dependência de álcool e/ou de drogas, as doenças afetivas, distúrbios alimentares (os mais comuns são a anorexia e a bulimia, que acometem principalmente as médicas), demências e/ou delirium pro­vocados pelo consumo de álcool e transtornos de personalidade.

Há ainda as doenças físicas, entre elas os distúrbios cardiocirculatórios (que têm ligação com o uso excessivo de álcool, nicotina e drogas), neoplasias e doenças do aparelho respiratório, co­mo indica o estudo feito pelo Cremesp e a Unifesp em 2012.

Sem limites

Mauro Aranha, psiquiatra e vice-presidente do Cremesp, faz um alerta sobre a característica que o médico tem de colocar o exercício profissional co­mo prioridade, sem dar um limite no tempo em que se dedica à Medicina, muitas vezes chegando a seu esgotamento total, e a importância que essa limitação tem na saúde do profissional. “Temos que sensibilizar os médicos sobre o seu presenteísmo (presença física, mas com pro­dutividade baixa), que muitas vezes ocasiona atritos com pacientes, por esgotamento.

O profissional nessa situação tem reduzida a sua disponibilidade cognitiva e afetiva para acolher o paciente”, comenta. [...]

[...] Ansiedade dos residentes

A alta competitividade existente entre os médicos residentes é uma das causas dos quadros de ansiedade.

Principalmente entre os que convivem com situações de atendimento de emergência e paradas cardíacas, que precisam explicar um caso delicado ou lidar com pacientes em fase terminal. Luiz Roberto Mi­lan, psiquiatra do Gru­po de Assistência Psicológica ao Aluno (Gra­pal) da FMUSP, explica que os altos níveis de ansiedade e estresse são mais comuns em pri­mei­ra­nistas, e que tal quadro tende a diminuir ao longo da Residência, quando o residente tem a sensação de já ser um médico formado, que precisa saber lidar com as situações.

De acordo com Milan, o médico enfrenta estresse em três áreas: a profissional (diante de atendimentos difíceis, necessidade de uma gama enorme de conhecimento para atuar na profissão, medo de errar e falta de perspectiva em relação à carreira), a situa­cional (privação de so­no, dramas familiares e amorosos) e a pessoal (saúde e comportamento).

Em meio a esse ambiente estressante, as mulheres são as mais afetadas pela equação jornada de trabalho X vida pessoal, mas, por outro lado, também procuram mais auxílio médico e psicológico.

Estresse do estudante

Há indícios de que o estresse do médico começa já durante a graduação.

Pesquisa realizada com 87,5% dos estudantes do primeiro ao sexto ano de Medicina da Faculdade de Medicina de Marília (Famema), em 2003, apontou que 60,1% das alunas tinham estresse, enquanto entre os homens, esse número cai para 41,06%.[...]

 [...] A tendência elevada de estresse entre as mulheres deve-se, teoricamente, à propensão a serem mais sensíveis, absorverem mais os dramas que seus pacientes enfrentam, além da questão da maternidade tardia, devido à necessidade de dedicação à profissão.

No geral, em 63,71% dos casos, em ambos os sexos, havia predominância de sintomas psíquicos – mais intensos a partir do 5° ano, principalmente entre as alunas, com índices de 90%. Em 24,05%, os sintomas físicos eram mais frequentes e 13,24% apresentavam os dois tipos.[...]


Grifo nosso
Fonte: Jornal do Cremesp nº 315
Imagem: Hupaalfal

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